O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, indicou a aliados políticos brasileiros que deverá recusar um eventual pedido de extradição da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Diante dessa possibilidade, Zambelli reconsidera seus planos de se estabelecer na Itália e avalia a permanência em solo norte-americano, onde conta com uma comunidade de apoiadores.
Condenação e fuga do país
Em maio de 2025, Carla Zambelli foi condenada pelo STF a dez anos de prisão e à perda do mandato parlamentar por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com o auxílio do hacker Walter Delgatti. A ação visava criar confusão no Judiciário por meio da inserção de mandados de prisão e soltura falsos. Após a condenação, a deputada deixou o Brasil e anunciou sua intenção de se estabelecer na Itália, país do qual possui cidadania.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou a prisão preventiva de Zambelli, argumentando que sua saída do país configurava tentativa de obstruir a aplicação da lei penal. Especialistas consultados pela Folha de S.Paulo consideraram o pedido legalmente fundamentado, dada a fuga da parlamentar.
A decisão de Zambelli de deixar o Brasil e buscar refúgio no exterior gerou debates sobre a eficácia das medidas judiciais e a cooperação internacional em casos de extradição.
Sinalização do governo Trump
Integrantes do governo Trump teriam informado a aliados bolsonaristas que, caso Carla Zambelli esteja nos Estados Unidos, um pedido de extradição ao Brasil seria negado. Essa posição contrasta com a política de cooperação internacional em matéria penal e levanta questionamentos sobre os critérios adotados pelo governo norte-americano em casos semelhantes.
A sinalização de recusa à extradição influenciou a decisão de Zambelli de reconsiderar sua ida à Itália, país que permite a extradição mesmo de cidadãos locais. A deputada avalia que a permanência nos EUA ofereceria maior proteção jurídica e apoio político.
A comunidade de brasileiros bolsonaristas estabelecida nos Estados Unidos, especialmente na Flórida, é vista como uma rede de apoio para Zambelli, tanto no aspecto pessoal quanto profissional.
Implicações diplomáticas e jurídicas
A possível negativa do governo Trump ao pedido de extradição de Carla Zambelli pode gerar tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, afetando a cooperação bilateral em matéria penal. O Brasil poderá recorrer a mecanismos legais e diplomáticos para contestar a decisão e buscar a responsabilização da parlamentar.
A situação também levanta debates sobre a eficácia dos acordos internacionais de extradição e a necessidade de revisão dos critérios adotados pelos países na concessão ou recusa de pedidos. A falta de uniformidade nas decisões pode comprometer a credibilidade do sistema de justiça internacional.
Além disso, o caso de Zambelli pode servir de precedente para outros políticos ou cidadãos condenados que busquem refúgio em países com políticas mais lenientes em relação à extradição, desafiando a autoridade dos tribunais nacionais.
Reações políticas e sociais
A possível permanência de Carla Zambelli nos Estados Unidos e a recusa do governo Trump em extraditá-la geraram reações diversas no cenário político brasileiro. Aliados da deputada veem a decisão como uma vitória política e uma forma de resistência às ações do STF.
Por outro lado, opositores e setores da sociedade civil criticam a postura da parlamentar e a consideram uma afronta ao sistema judiciário brasileiro. A fuga de Zambelli é interpretada como uma tentativa de escapar da responsabilização por seus atos.
A situação também reacende debates sobre a polarização política no Brasil e a influência de lideranças estrangeiras nas questões internas do país, especialmente no contexto das relações entre bolsonaristas e o governo Trump.
O caso de Carla Zambelli destaca os desafios enfrentados pelo sistema de justiça brasileiro na aplicação de suas decisões no contexto internacional. A possível recusa do governo Trump em extraditar a deputada condenada pelo STF evidencia a complexidade das relações diplomáticas e a necessidade de fortalecimento dos mecanismos de cooperação jurídica entre os países.