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Hélio Liborio

VLT até Alagoinhas? Governo da Bahia anuncia estudos para expansão do modal com apoio do Banco dos BRICS

Governador Jerônimo Rodrigues promete levar o VLT de Salvador até Alagoinhas, com apoio de Dilma Rousseff e recursos do PAC, enquanto a população tenta acompanhar o bonde da propaganda.

O governo do Estado da Bahia voltou a reacender o imaginário coletivo dos baianos com um novo capítulo da saga das grandes promessas de mobilidade: a extensão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) até Alagoinhas. O anúncio foi feito pelo governador Jerônimo Rodrigues, que afirma estar articulando recursos com o Banco dos BRICS e destinando verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para dar suporte técnico ao projeto. A iniciativa, embora ainda em fase de estudo, já ganha status de solução mágica para o desenvolvimento regional, como tantas outras que, historicamente, ficaram pelo caminho.


A proposta do governo e o novo traçado para o VLT

O projeto de expansão do VLT prevê a ligação entre a Ilha de São João, em Salvador, até Alagoinhas, passando por municípios como Simões Filho, Camaçari, Dias D’Ávila e Pojuca. A meta é integrar, por trilhos, a capital à região metropolitana e, num passo ousado, avançar até o interior.

Segundo o governador Jerônimo Rodrigues, o estudo técnico já está em andamento na Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB) e tem apoio financeiro garantido por meio do PAC. O investimento conta ainda com articulação política junto ao Banco dos BRICS, cuja presidência está a cargo da ex-presidente Dilma Rousseff — ela mesma conhecida por suas obras de infraestrutura não finalizadas.

A proposta foi apresentada como uma resposta estratégica à demanda por mobilidade urbana e integração logística no estado. A ideia é promissora, mas, como se verá adiante, não é exatamente nova — tampouco imune às recorrentes ironias do tempo e das urnas.


Um modal que ainda está no papel

Apesar da pompa do anúncio, o projeto ainda está na fase de viabilidade técnica. Isso significa que não há orçamento definido, tampouco prazos realistas de execução. Em outras palavras: trata-se, por ora, de mais uma boa intenção sobre trilhos imaginários.

A implantação do VLT até Alagoinhas exige adaptações técnicas complexas, como a construção de novos trechos ferroviários, compatibilização com o traçado urbano das cidades e estudos ambientais e financeiros robustos. Mas no anúncio do governo, o que há de concreto é apenas o desejo político — e, claro, o apelo midiático.

No entanto, para quem vive em Alagoinhas, onde os buracos nas ruas competem com os anúncios de marketing institucional, é difícil embarcar com entusiasmo em mais uma jornada retórica. O discurso oficial segue veloz; a realidade, porém, continua parada na estação.


A trilha sonora das promessas: de pontes à fumaça

É impossível tratar do anúncio do VLT até Alagoinhas sem lembrar da famosa ponte Salvador-Itaparica. Prometida por Jaques Wagner com data, hora e cronograma, reafirmada por Rui Costa com discurso inflamado, e novamente reembalada por Jerônimo Rodrigues, a ponte virou um símbolo não de progresso, mas da credulidade institucional com que se trata o povo baiano.

O paralelo é inevitável. Como a ponte, o VLT até Alagoinhas surge como promessa oportuna — e oportuna, aqui, leia-se pré-eleitoral. Anúncios grandiosos, articulados com instituições internacionais, selos de desenvolvimento, vídeos bem produzidos, e uma população que já ouviu, viu e sofreu tudo isso antes.

Não se trata de negar a importância de investimentos em mobilidade. Mas de reconhecer que, em meio à teatralidade da política baiana, projetos como esse carregam mais holofotes que trilhos, mais ensaio do que execução, mais cabresto do que compromisso real com o território.


O prefeito e o São João dos tempos modernos

Enquanto o governo estadual mira em trilhos futuristas, o prefeito de Alagoinhas, Gustavo Carmo, parece ter encontrado na propaganda seu próprio VLT particular. Em uma semana marcada por anúncios que incluem linha férrea, empregos via petróleo e gás, e agora o tão celebrado “São João de todos os tempos”, a cidade viu um desfile de promessas que encheram as redes sociais, mas não as carteiras dos trabalhadores.

É curioso — para não dizer cômico — que, diante de problemas elementares como a falta de saneamento em bairros periféricos e o abandono da juventude desempregada, a gestão municipal prefira apostar em imagens de progresso que nem mesmo possuem base técnica no município. O mesmo prefeito que diz “trabalhar com a verdade” agora é lembrado nas esquinas com um novo bordão: “chama que o prefeito mente”.

E entre uma festa e outra, o que se perde é justamente o fio da esperança real de desenvolvimento. Alagoinhas está cansada de efeitos especiais e trilhas sonoras de campanha. O que se pede é menos cenário e mais estrutura, menos outdoor e mais planejamento.


A pergunta que fica: onde estão os empregos prometidos?

Não é a primeira vez que Alagoinhas figura em projetos de propaganda como centro de oportunidades industriais. Recentemente, a região foi palco de discursos inflamados sobre empregos via exploração de gás natural, revitalização ferroviária, e um parque industrial que até hoje só existe nas planilhas de PowerPoint.

É necessário lembrar que, para cada anúncio desses, há uma população que espera retorno concreto. Jovens em busca do primeiro emprego, mães que dependem do transporte público para manter a rotina dos filhos, idosos que esperam consultas médicas em postos sem insumos. Esses não embarcam facilmente em fantasias sobre trens e trilhos.

O que está por trás de tantos anúncios em sequência, com pouca base técnica e cronograma nulo? O ano eleitoral se aproxima e, como de costume, as engrenagens da propaganda são reativadas. Mas o povo já aprendeu a reconhecer o barulho das promessas ocas. A locomotiva da propaganda pode até passar apitando alto — mas poucos acreditam que ela vai parar na estação.