
Ironia tem limite — já dizia o povo. Mas parece que esse limite foi ultrapassado na semana em que o governo do Estado da Bahia e a prefeitura de Alagoinhas decidiram vestir a farda dos visionários e anunciaram, com entusiasmo digno de novela das oito, que o VLT chegará até Alagoinhas. É sério, leitor: o bonde vai subir a serra e descer na Praça Kennedy.
Veja bem, não é que a cidade não mereça. Alagoinhas merece muito mais que isso. Merece um sistema público decente, ruas transitáveis, escolas com ar-condicionado, postos de saúde com médicos. Mas merece, sobretudo, respeito. E respeito não se anuncia em vídeo de um minuto no Instagram.
É muita vontade de enganar a boa fé do povo. Depois da ponte Salvador-Itaparica, das refinarias, dos polos de gás e petróleo, agora é a vez do VLT cruzar o mapa eleitoral. O governador viaja, a ex-presidente Dilma reaparece, o PAC entra na conversa, e no fim — como sempre — quem fica a pé é o cidadão de Alagoinhas.
Enquanto isso, o prefeito canta: “vem pro São João de todos os tempos”. Sim, vem. Que venha o São João, que venha a música, que venham os fogos. Mas tomara que, nos bastidores da festa, o povo não esteja acendendo a última vela da esperança.
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O anúncio do VLT até Alagoinhas segue a conhecida cartilha das grandes promessas que embalam as esperanças populares, mas raramente se concretizam em trilhos. Se por um lado a iniciativa parece conectada com ideias modernas de mobilidade e integração regional, por outro, carrega o peso histórico das propagandas que jamais saíram do papel. Resta à população — especialmente a de Alagoinhas — manter os pés no chão, olhos atentos e a voz crítica ativa, para que o trem do futuro não passe, mais uma vez, apenas como miragem na paisagem.
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