
Enquanto o Sul do Brasil acelera na construção de novas ferrovias, impulsionado por parcerias públicas e privadas, e investimentos robustos em infraestrutura, Alagoinhas e toda a região nordeste continuam à espera de um trem que parece nunca chegar. Mais uma vez, o trem do desenvolvimento passa — mas não para.
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul desenham um futuro sobre trilhos, com projetos audaciosos que incluem conexões estratégicas entre portos, polos produtivos e fronteiras internacionais. Estão falando em bilhões, concessões de 99 anos, portos de águas profundas, dragagens históricas, trens que desafiam a lógica rodoviarista e abrem caminho para o progresso. E nós? Seguimos com promessas desativadas, malhas obsoletas, e um silêncio ensurdecedor das lideranças políticas locais.
Não faltam discursos, audiências públicas e fotos em frente ao terminal ferroviário. Mas faltam, sobretudo, ação, estratégia e articulação política eficaz. A verdade é dura: a incompetência e a omissão de nossos representantes têm deixado o Nordeste fora dos trilhos da modernização. Alagoinhas, cidade de localização privilegiada, cortada por BRs, com histórico ferroviário, poderia e deveria ser um hub logístico regional. Poderia, mas não é.
Enquanto os trilhos do Sul vão costurando uma nova lógica de escoamento — com menos caminhões, mais segurança, menos poluição e maior produtividade — continuamos reféns da precariedade rodoviária e da ausência de visão de longo prazo. A pauta ferroviária por aqui é tratada como favor e não como política de Estado.
Onde estão os deputados baianos com poder de barganha em Brasília? Onde está o lobby dos prefeitos, o clamor das câmaras municipais, o envolvimento das federações da indústria e do comércio? O Sul soube unir forças. Nós seguimos divididos entre discursos, siglas e ego político.
E enquanto discutimos o sexo dos anjos, os trilhos vão se firmando onde há competência administrativa e projeto de futuro. O que deveria ser um plano nacional de equilíbrio regional virou uma corrida desigual. E o trem, que nunca foi tão necessário, segue fora dos mapas da Bahia — e do imaginário político local.
É preciso parar de aplaudir anúncios e começar a cobrar execução. Alagoinhas precisa mais do que intenções. Precisa de representantes que entendam que infraestrutura logística não é luxo — é sobrevivência econômica.
Porque do jeito que está, o Nordeste segue na estação, enquanto o Sul já embarcou no futuro.
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