Picture of Hélio Liborio
Hélio Liborio

Pitaco

O Teatro dos Vetos: E a Discoteca do SAAE Toca Para o Povo

Português

A recente cena presenciada na Câmara de Vereadores de Alagoinhas nos oferece um espetáculo peculiar, digno de uma análise que vai além dos discursos inflamados e das trocas de acusações. O que de fato vimos foi a encenação de um teatro político, onde a indignação, genuína ou não, foi direcionada a um alvo conveniente: os vetos do prefeito. É irônico, para não dizer trágico, que a “casa do povo” se mova com tamanha energia para defender a autonomia de seus projetos, enquanto temas que realmente sangram no bolso e na vida da população – como o SAAE e suas tarifas – são tratados com uma frieza burocrática, como se fossem apenas notas de rodapé em um grande roteiro.
A euforia dos parlamentares diante dos vetos parece mais um reflexo de vaidades e disputas internas do que uma verdadeira luta pelo bem-estar coletivo. Levanta-se a questão: de que adianta uma casa legislativa ser prolífica em projetos de lei, se estes carecem de estrutura jurídica ou se chocam com a viabilidade orçamentária? Mais ainda, de que vale o grito de “falta de diálogo” se, na arena principal, o tema do saneamento básico, da empregabilidade e das obras inacabadas é varrido para debaixo do tapete?
O que nos foi apresentado é um retrato de uma aliança política, uma “salada de frutas” de bandeiras partidárias que, apesar da divergência aparente sobre os vetos, parece dançar convenientemente ao som da música que o prefeito-maestro toca. E se a melodia se mantiver por quatro anos, o povo de Alagoinhas arcará com o preço de uma sinfonia que prioriza o poder e a conveniência, e não as suas reais necessidades. Resta-nos, como cidadãos, aguardar os próximos capítulos e, quem sabe, esperar que surja um solista que ouse tocar uma canção diferente.

English