
O grande circo está montado. A prisão de um ex-presidente é, incontestavelmente, um fato de magnitude jurídica e política, mas no Brasil contemporâneo, ele se transforma imediatamente em um evento de natureza sacrificial, a ser consumido e digerido pelo público como o único prato do dia. A questão crucial, que se perde na algazarra das manchetes e dos feeds eufóricos ou indignados, não é se a lei foi cumprida, mas o que, de fato, a sociedade brasileira ganha ao reduzir a complexidade de seus males à figura de um único indivíduo. A resposta, fria e inescapável, é: nada de concreto. O “obvio do mesmo” se repete, e a massa, anestesiada pelo drama, mais uma vez erra o alvo principal.
A verdadeira tragédia em curso não é a prisão em si, mas a metástase da “polarização viciada”, que atua como um bloqueador químico no cérebro social. Este mecanismo de confinamento intelectual nos obriga a escolher entre dois polos esgotados, impedindo a oxigenação de uma terceira via ou o surgimento de um pensamento verdadeiramente autônomo. O poder estabelecido — aquele que reside nas estruturas profundas e não nos palanques — triunfa a cada tweet de ódio ou celebração histérica, pois enquanto nos digladiamos sobre o destino de uma persona, os grandes desafios estruturais da Nação permanecem intocados. O espetáculo do justiçamento é, em essência, um analgésico potente: ele tira a dor da consciência, mas adia a cirurgia.
A única resposta capaz de quebrar este ciclo de dependência emocional e política é o investimento radical na formação educacional do cidadão. Um país não avança pela queda de um líder, mas pela ascensão da consciência crítica de seu povo. Enquanto a base da pirâmide for mantida em um estado de fragilidade educacional, a polarização sempre encontrará solo fértil para se alastrar. É preciso desviar o olhar do palco central — a prisão — e direcioná-lo para a sala de aula, para o bairro, para a política municipal. O Brasil precisa de um novo diagnóstico que não se paute por caprichos ou por uma nostalgia inoperante, mas sim por ideais agregadores e, acima de tudo, por um projeto de educação que liberte a mente pensante. A verdadeira justiça é a que emancipa.
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