As eleições legislativas de Buenos Aires, realizadas em 18 de maio de 2025, marcaram uma virada significativa no cenário político argentino. A coalizão La Libertad Avanza (LLA), liderada pelo presidente Javier Milei, obteve uma vitória expressiva, conquistando 30,1% dos votos e superando tanto o peronismo quanto o PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri. Este resultado não apenas encerra um ciclo de 18 anos de hegemonia do PRO na capital, mas também posiciona Milei como uma força dominante na política nacional.
Ascensão de La Libertad Avanza
A vitória da LLA em Buenos Aires representa um marco na trajetória política de Javier Milei. Fundado há apenas quatro anos, o partido conseguiu canalizar o descontentamento popular com a classe política tradicional, apresentando-se como uma alternativa libertária e anti-establishment. A campanha foi centrada em promessas de reformas econômicas radicais, redução do tamanho do Estado e combate à corrupção.
Manuel Adorni, porta-voz de Milei e principal candidato da LLA, destacou em seu discurso de vitória que “hoje é um ponto de inflexão para as ideias de liberdade”, enfatizando a rejeição ao que chamou de “modelo da casta política” . A estratégia de associar os adversários políticos a uma elite privilegiada parece ter ressoado com o eleitorado, especialmente entre os jovens e os insatisfeitos com a situação econômica do país.
A campanha também se beneficiou de uma presença marcante nas redes sociais e de uma retórica direta e combativa, características que têm sido eficazes em contextos políticos globais recentes. A capacidade de mobilizar eleitores desiludidos com as opções tradicionais foi crucial para o desempenho da LLA nas urnas.
Declínio do PRO e fragmentação da direita
O PRO, partido fundado por Mauricio Macri, sofreu uma derrota significativa, obtendo apenas 15,9% dos votos e ficando em terceiro lugar. Este resultado representa a primeira vez em quase duas décadas que o partido não lidera as eleições na capital argentina, sinalizando uma crise de representatividade e liderança dentro da legenda.
A relação entre Macri e Milei, inicialmente marcada por uma aliança pragmática, deteriorou-se nos últimos meses. Desentendimentos sobre nomeações judiciais e estratégias políticas, além de incidentes como a disseminação de um vídeo falso envolvendo Macri, contribuíram para o rompimento da parceria. Macri criticou publicamente o estilo confrontador de Milei e sua abordagem em relação às instituições democráticas.
A fragmentação da direita argentina, evidenciada pela competição entre LLA e PRO, reflete uma disputa por hegemonia ideológica e eleitoral. Enquanto Milei busca consolidar uma nova direita libertária, o PRO enfrenta o desafio de se reinventar e reconquistar a confiança do eleitorado.
Desempenho do peronismo e reconfiguração do centro-esquerda
O peronismo, representado por Leandro Santoro, alcançou 27,4% dos votos, ficando em segundo lugar. Embora o resultado seja melhor do que em eleições anteriores na capital, tradicionalmente adversa ao movimento, ele não foi suficiente para conter o avanço da LLA.
A performance do peronismo indica uma base de apoio ainda significativa, mas também evidencia a necessidade de renovação e adaptação às novas dinâmicas políticas. A ascensão de Milei e a fragmentação da direita criam um cenário em que o peronismo pode buscar reposicionar-se como uma alternativa moderada e responsável.
Analistas políticos sugerem que o peronismo precisará articular uma narrativa que vá além da oposição ao neoliberalismo, incorporando propostas concretas para os desafios econômicos e sociais do país, a fim de reconquistar a confiança de setores do eleitorado.
Implicações para as eleições nacionais
A vitória da LLA em Buenos Aires tem implicações significativas para as eleições legislativas nacionais previstas para outubro de 2025. Atualmente, o partido detém uma minoria no Congresso, com 15% das cadeiras na Câmara e 10% no Senado. O desempenho nas eleições locais pode impulsionar a campanha nacional e aumentar a representação legislativa da LLA.
Milei tem promovido uma agenda de reformas econômicas e institucionais ambiciosas, incluindo medidas de austeridade e reestruturação do Estado. Para implementá-las, será necessário ampliar a base de apoio no Congresso, tornando as eleições de outubro cruciais para o futuro do governo.
A consolidação da LLA como força política nacional também pode influenciar o posicionamento de outros partidos e lideranças, levando a realinhamentos e novas coalizões. O cenário político argentino está em transformação, e os próximos meses serão decisivos para definir os rumos do país.