
Enquanto os grãos brotam no campo, brotam também os discursos reciclados — oito anos e quatro meses de promessas, somados às décadas em que Alagoinhas parece repousar em berço esplêndido, com ares de interior que ainda espera o trem da modernidade. A cidade agora figura entre as melhores para investir em agropecuária, e não se nega o mérito; mas convém lembrar que não se planta futuro com manchetes, e sim com infraestrutura.
É verdade que a terra é fértil, que a água é doce e que a localização é “estratégica” — como bem repete o marketing oficial. Mas de que adianta tanta promessa se o escoamento da produção ainda depende de um GPS com paciência? Onde estão os anéis de contorno? Cadê as saídas rodoviárias que libertem Alagoinhas do seu próprio engarrafamento histórico? Continuar empilhando estudos e possibilidades sem pavimentar resultados são como querer colheita sem lavoura.
Na corrida do agro, o ego político tem roubado a cena. O prefeito segue celebrando vitórias em cima de diagnósticos — mas esqueceram de avisar que só se vence com tratamento, e não com laudos. O discurso de atrair empresas precisa andar de mãos dadas com a ação: com redução de alíquota, sim, mas também com contrapartidas sociais, apoio às instituições filantrópicas, requalificação urbana e, por que não, um plano de mobilidade que tire Alagoinhas da condição de vitrine parada no tempo.
A cidade precisa romper o ciclo de ideias engarrafadas, sair da exposição de projetos para a entrega de obras. Falar em investimento sem criar rotas de escoamento é como encher o celeiro sem abrir a porteira. Se o agro quer prosperar, que o ego desça do palanque e caminhe junto com o povo — não no discurso, mas no asfalto, nas escolas, nas praças e nas oportunidades. Alagoinhas merece mais que títulos: precisa de saídas.
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