Na última quarta-feira, 23 de abril de 2025, o município de Alagoinhas sediou a 6ª Conferência Municipal das Cidades, evento que reuniu representantes da sociedade civil, movimentos populares, setor empresarial, entidades profissionais, gestores públicos e parlamentares. O objetivo principal foi discutir temas relacionados à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), promovendo a participação popular na formulação de propostas para o desenvolvimento das políticas públicas urbanas e fortalecendo a interlocução entre o poder público e a sociedade. Entretanto, a retórica institucional não pode se sobrepor à realidade local: sem os serviços públicos básicos, o discurso da sustentabilidade torna-se apenas um adereço sem conteúdo prático.
Participação cidadã e construção coletiva
A conferência marcou o retorno de um importante espaço de debate no município, que há mais de dez anos não era realizado. A solenidade de abertura contou com a presença de autoridades locais, incluindo o prefeito Gustavo Carmo, o vice-prefeito Luciano Sérgio, o vice-presidente da Câmara de Vereadores, Caio Ramos, e os deputados estaduais Ludmilla Fiscina e Radiovaldo Costa. Também estiveram presentes secretários municipais e vereadores, além da palestrante Patrícia Santos de Freitas, servidora da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia e coordenadora do ConCidades, que abordou o tema “Unindo o campo e a cidade para o desenvolvimento sustentável: caminhos para cidades inclusivas, democráticas, sustentáveis e com justiça social”.
Durante o evento, o prefeito Gustavo Carmo destacou a importância da participação popular no planejamento das cidades, ressaltando que a conferência é uma ferramenta democrática essencial para a construção do futuro do município. O vice-prefeito Luciano Sérgio celebrou o engajamento dos mais de 250 participantes, enfatizando que o desenvolvimento integrado e sustentável da cidade só é possível com a participação de todos, especialmente da sociedade civil organizada.
A diversidade dos participantes, incluindo representantes de diferentes segmentos da sociedade, contribuiu para um debate plural e enriquecedor sobre os desafios e oportunidades do desenvolvimento urbano em Alagoinhas. Essa abordagem reforça o compromisso do município com a democracia participativa e a gestão compartilhada das políticas públicas urbanas. Ainda assim, a representatividade popular só poderá ter real efeito se acompanhada de ações concretas e estruturantes.
Grupos de trabalho e propostas elaboradas
Para aprofundar os debates e elaborar propostas para a PNDU, os participantes foram divididos em oito Grupos de Trabalho (GT), que discutiram temas estratégicos como objetivos e diretrizes da PNDU, habitação, saneamento básico, mobilidade urbana, cooperação e consórcios, gestão de cidades, meio ambiente e emergências climáticas, transformação digital e segurança pública.
A diversidade dos grupos trouxe experiências e visões distintas sobre os desafios urbanos de Alagoinhas. O jovem aprendiz Pablo Araújo, representante do Terreiro de Umbanda Império da Maria Mulambo e Zé Pilintra, participou ativamente do GT sobre controle social, destacando a importância da inclusão de sua comunidade nas decisões e na deliberação de políticas públicas.
Já Rachell Adrielle, engenheira e professora universitária, participou do GT que discutiu sobre meio ambiente e emergências climáticas, enfatizando a necessidade de políticas públicas que considerem as especificidades das diferentes regiões do município. Essas propostas serão sistematizadas e encaminhadas para a etapa estadual da conferência, contribuindo para a formulação de políticas públicas alinhadas às necessidades e aspirações da população de Alagoinhas.
Vulnerabilidades sociais: o nó da sustentabilidade
O retorno da conferência é bem-vindo, mas não pode ocultar as graves lacunas da gestão pública municipal. A cidade ainda convive com a ausência de saneamento básico em grande parte dos bairros periféricos, a precariedade no abastecimento de água potável, a mobilidade urbana desordenada e a carência de políticas efetivas de emprego e renda. Como pensar em sustentabilidade sem antes garantir o essencial à vida?
O próprio tema da conferência propõe caminhos para cidades inclusivas e justas. Mas como trilhar tais caminhos quando grande parcela da população de Alagoinhas continua à margem do acesso a direitos fundamentais? A ausência do poder público em comunidades vulneráveis não é um detalhe: é o problema central que impede qualquer avanço efetivo.
A sustentabilidade urbana exige mais que discursos em auditórios climatizados. Requer planejamento, investimento contínuo e, sobretudo, sensibilidade social. Sem esses elementos, o desenvolvimento urbano sustentável se converte em retórica oca, incapaz de dialogar com as reais necessidades da população.