Hélio Liborio
Hélio Liborio

Pitaco

100 dias de um governo vivo (demais…)

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100 dias: a comemoração é justa, mas o conteúdo é obrigatório

Completar 100 dias de governo é um marco simbólico. É o momento em que a tinta do discurso já deveria ter secado e dado lugar à caligrafia firme das ações concretas. Em Alagoinhas, o governo Gustavo Carmo resolveu marcar a data com pompa e circunstância, apresentando à população um balanço que, embora recheado de dados e falas técnicas, carece de uma tradução prática e cotidiana para quem vive a cidade — e, principalmente, para quem sente as ausências do poder público na pele.

A pergunta que ecoa por trás das palmas no auditório é simples, mas poderosa: o que de fato mudou na vida dos munícipes de Alagoinhas nestes 100 dias?

Sim, foram apresentados dados de infraestrutura, saúde, educação, mobilidade e valorização dos servidores. Mas vamos por partes: melhorias pontuais são importantes, mas não podem ser confundidas com políticas públicas estruturantes. Uma operação tapa-buracos aqui e uma pintura escolar acolá não são sinônimo de planejamento urbano ou revolução educacional. São, quando muito, manutenção mínima.

Políticas públicas que de fato mudam vidas — e que deveriam ser critério de avaliação para os tais 100 dias — têm outra natureza. São aquelas que garantem empregabilidade real, não só cursos e capacitações isoladas. São as que tratam a educação como eixo transformador, com escolas fisicamente acessíveis, bem cuidadas, com bons índices de aprendizado e onde o respeito vai do porteiro ao diretor. São as que desenham a cidade para as pessoas, com mobilidade urbana inteligente, acessível, inclusiva, ambientalmente sustentável — não apenas para os automóveis.

Essas políticas, infelizmente, ainda não estão evidentes.

O governo Gustavo Carmo, ainda que em sua continuidade administrativa, possui todas as condições técnicas e políticas para fazer diferente — e melhor. Herdou estrutura, equipe e acordos políticos para governar com relativa tranquilidade. Mas até aqui, a impressão é que a continuidade se mantém mais como prudência que como ousadia. Falta ainda uma marca própria que vá além da estética, que dialogue com o futuro de Alagoinhas.

Se todo gestor tivesse a sensibilidade de compreender que o que dignifica a vida de um cidadão não são os discursos bem ensaiados nem os eventos regados a luzes e sorrisos, mas sim a dignidade do trabalho, da mobilidade, da educação e da cultura como direito, talvez os balanços de 100 dias fossem mais que slides ilustrados — seriam retratos vivos da transformação.

Enquanto isso, parabéns ao governo por completar os 100 dias. O governo está vivo. E a cidade, esperançosa. Mas fica a sugestão: que o próximo balanço traga mais do que palavras bonitas. Que traga mudança sentida no chão da cidade.

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