Fazer política pública vai muito além de transferir responsabilidades. É preciso assumir o dever de prevenir, fiscalizar e agir com firmeza, especialmente em questões que envolvem saúde pública e meio ambiente. No entanto, em Alagoinhas, parece mais fácil culpar a população por problemas relacionados ao descarte de lixo do que enfrentar a própria omissão do poder público.
Moradores do Loteamento Santa Terezinha denunciam o uso irregular de um terreno como depósito de entulhos e resíduos. A consequência? Proliferação de moscas, mosquitos e o pior: contaminação de um lago com chorume, gerando um risco ambiental que deveria acender o alerta vermelho nas autoridades.
Mas, em vez de planejamento e medidas estruturantes, o que se vê é uma resposta protocolar, evasiva e sempre com o dedo apontado para o cidadão. A gestão municipal parece esquecer que a coleta de entulho é responsabilidade direta das empresas contratadas — e, mais ainda, da Secretaria de Serviços Públicos e da Secretaria do Meio Ambiente, que deveriam fiscalizar essas ações rotineiramente.
Cobrar descarte correto da população sem garantir um sistema funcional, fiscalizador e acessível é inverter a lógica da gestão pública. É como culpar o povo por andar na lama, quando a Prefeitura deveria ter pavimentado as ruas.
Ainda que tardiamente, a Prefeitura anunciou ações de fiscalização com apoio da Guarda Municipal. Mas a pergunta que ecoa é: por que só agora? Quantos bairros já convivem com essa mesma realidade invisibilizada? Quantos lagos e terrenos serão sacrificados antes de se criar uma política séria e contínua de manejo de resíduos?
Se a Prefeitura deseja de fato resolver o problema, precisa ir além da autuação pontual. É preciso criar um plano municipal de gestão de resíduos, garantir pontos de descarte legalizados, ampliar campanhas educativas, responsabilizar empresas e, sobretudo, deixar de empurrar a sujeira para debaixo do tapete.
Porque lixo não nasce sozinho — ele é gerado, descartado e negligenciado. E, nesse ciclo, a responsabilidade primeira é de quem governa.