
É compreensível — e até esperado — que prefeitos corram atrás de recursos em Brasília. Em um país onde os cofres municipais vivem mais secos que tanque de zona rural em setembro, buscar os tais milhões do PAC é quase um ato de sobrevivência institucional. Gustavo Carmo foi, sorriu, encontrou senadores e deputados, articulou. Palmas protocolares. Os R$ 135 milhões em propostas são uma montanha respeitável. Macrodrenagem, saúde, mobilidade, educação… tudo muito bonito no papel timbrado.
Mas a pergunta que não cala — e que ninguém nas reuniões de gabinete gosta de ouvir — é: e se nada disso virar trabalho, vira o quê?
Porque se essa romaria a Brasília não se traduzir em emprego, renda e transformação social, ela será apenas mais uma caravana da vaidade travestida de esforço técnico. Alagoinhas não precisa de placas de inauguração. Precisa de gente empregada, de jovem com oportunidade, de família com comida no prato que não dependa do favor político ou do mercado de ilusão.
É fácil dizer que “há projetos”. Mais fácil ainda é listar secretarias e estudos. Difícil mesmo é encarar o povo que acorda cedo e vai dormir com o estômago vazio, ouvindo promessas que nunca desceram da torre do poder para a calçada da feira.
Macrodrenagem resolve alagamento. Mas não resolve o desespero de quem passou o mês inteiro procurando serviço. Creche no Mangalô é importante. Mas não ensina ninguém a pagar as contas quando falta salário. Ônibus escolar é ótimo, desde que o estudante também tenha merenda, aula e, no fim da linha, um futuro.
É por isso que o pitaco de hoje é direto e seco: sem geração de emprego e oportunidade, todo esse esforço em Brasília vira espuma de marketing. Política não é turismo institucional nem show de assessoria. Política é ferramenta de transformação — ou não serve para nada.
Se Gustavo Carmo voltar de Brasília com mais fotos do que empregos criados, teremos perdido tempo e iludido o povo. E esse povo, vale lembrar, já cansou de se iludir com tapinhas nas costas e promessas em papel timbrado.
Então que venham os milhões. Que venham as obras. Mas que venham, sobretudo, com o povo dentro — trabalhando, participando, sendo protagonista. Do contrário, Brasília terá sido só mais uma vitrine, e Alagoinhas, mais uma vez, o estoque esquecido nos fundos da loja.
O Linhas de Fato tem foco nos acontecimentos e compromisso com o jornalismo sério e informativo.