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Hélio Liborio

Pitaco

“Hora marcada não é hora certa”

Português

Não é de hoje que a relação entre povo e poder precisa de reparos. A Câmara de Alagoinhas, ao anunciar mais uma mudança de horário — agora para as manhãs — tenta parecer inovadora, quando na verdade apenas repete o ciclo do improviso travestido de gestão participativa. A pergunta que não cala é: o problema sempre foi o relógio?
Antes era das 14h às 16h. Depois das 16h às 18h. Já se tentou das 18h às 20h. E o que mudou? O povo compareceu? Ou o vazio do plenário só ecoou discursos frios, sem ideias, sem projetos, sem atualidade? Não se trata do tempo, mas do conteúdo. Qual comunidade vai deixar o almoço no fogo para ouvir vereador repetir falas cansadas, fora da realidade e, muitas vezes, fora de propósito?
A alegação de que a manhã é mais acessível soa mais como estratégia de bastidor do que como escuta pública. Em vez de medir fluxo de entrada no prédio, que tal medir o impacto dos projetos apresentados? O que a Câmara tem proposto para os bairros periféricos, para a juventude, para a saúde, para o transporte, para o trabalhador da feira, do campo, da fábrica?
E o custo? Porque se há mudança de turno, haverá também ajuste no protocolo: almoço, café reforçado, ar-condicionado mais tempo ligado, expediente estendido — e o povo pagando a conta. Isso tudo para justificar o quê? Aumentar a estrutura sem aumentar a entrega?
No fundo, talvez o problema não seja a hora, nem o calor da tarde ou o sol da manhã. Talvez o problema esteja mesmo na ausência de propósito político, na letargia do debate e na falta de uma Câmara que seja, de fato, espelho da cidade. Porque povo participa onde há sentido. E onde não há representatividade, não há presença — há apenas cadeiras vazias e palmas protocolares.

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