
Quando a política vira espetáculo e o eleitor vira plateia, a democracia corre risco de virar ficção. A polarização que se instalou no Brasil nos últimos anos não é novidade, mas tornou-se um método eficiente de afastar a população do centro da discussão pública. De um lado, grupos que defendem a ordem e a pátria como se fossem donos da Constituição; de outro, os que se apresentam como salvadores sociais, mas repetem a velha fórmula do assistencialismo sem emancipação. No meio disso tudo, está o povo — com suas dores reais, seus boletos, suas ruas esburacadas e sua esperança, cada vez mais esfarelada.
Essa disputa entre extremos tem produzido muito ruído e pouca reflexão. Enquanto isso, questões urgentes — como saúde, educação, transporte e segurança — são transformadas em armadilhas retóricas. O que deveria ser um debate programático vira um duelo de frases prontas. E o pior: o eleitor, intoxicado por paixões políticas e narrativas digitais, acaba se afastando da crítica e se aproximando do fanatismo. Ninguém mais pergunta “como”?, Só querem saber “de que lado você está?”. E isso, convenhamos, não é democracia: é distração.
A verdadeira ruptura não será entre esquerda e direita, mas entre o que se promete e o que se faz. O Brasil não precisa de heróis de palanque nem de discursos reciclados. Precisa de propostas sólidas, gestões responsáveis e uma população capaz de pensar fora do bloco. Nem toda promessa vem com projeto, nem toda bandeira tem propósito. E o silêncio — esse silêncio que paira quando acaba a eleição — talvez diga mais do que todos os discursos juntos. Cabe ao povo romper esse ciclo. E, dessa vez, não com aplauso — mas com crítica.
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