
A Consolidação da Política e a Urgência do Planejamento
O Encontro do NIMCEI surge em um momento estratégico, alinhado à meta nacional de expansão das matrículas em tempo integral, que visa atingir 50% das escolas públicas até o final desta década. Conforme destacou Lucas Aguiar, articulador da RENAPETI, a mobilização intermunicipal demonstra a maturidade e a organização necessárias para qualificar essa expansão. A reunião de pares municipais e a orientação sobre o regramento nacional e estadual servem para garantir que o aumento de matrículas ocorra com qualidade e planejamento, evitando a dispersão de esforços e a descontinuidade das ações.

A discussão central girou em torno de como blindar o avanço da Educação Integral contra a volatilidade das mudanças de gestão. A proposta é clara: qualificar as políticas municipais para que a continuidade seja assegurada, independente dos ciclos eleitorais. Isso exige que a política seja compreendida não apenas como um conjunto de regras, mas como um conjunto de decisões validadas e sustentadas pelos atores educacionais que estão na ponta – professores, diretores e coordenadores. A orientação do MEC, reforçada pelas falas de Valdson Junior, Coordenador de Sergipe, atesta que o esforço conjunto de União, Estados e Municípios é o único caminho para a materialização das ações.

A criação de um Núcleo Intermunicipal, conforme idealizado pelo Coordenador Rubnilson Félix, transforma o desafio individual em um compromisso coletivo. Ao buscar o companheirismo e a troca de experiências entre municípios vizinhos, o Núcleo se fortalece para enfrentar os embates inerentes à implementação. A busca por parcerias certas, como o Comitê Baiano de Educação Integral e o Centro de Referência de Educação Integral, visa injetar concepção correta na mente dos gestores e educadores, garantindo que o foco não se restrinja à ampliação do turno, mas sim ao enriquecimento e aprofundamento do próprio conceito de Educação Integral, levando esperança e humanização à população.
Intersetorialidade como Eixo Estruturante da Educação Integral


O evento em Poções sublinhou a intersetorialidade como um elemento não apenas desejável, mas fundamental e estruturante para o sucesso da Educação Integral. A Secretária de Educação de Poções, Jaqueline, e a Professora Sirlene Machado enfatizaram que a escola sozinha não pode dar conta da totalidade das necessidades do aluno. O sujeito que chega à escola carrega toda a sua vivência e as vulnerabilidades do seu ambiente.
O exemplo da desnutrição crônica ilustra a urgência dessa parceria. Se um aluno apresenta problemas de saúde que não foram adquiridos na escola, é necessário acionar outros setores, como a Saúde e a Assistência Social. Da mesma forma, situações de abuso de direito exigem a atuação imediata do Conselho Tutelar. A intersetorialidade é a perspectiva de mão dupla: o professor, na linha de frente, dialoga com os organismos governamentais, e o gestor público garante a governabilidade e a materialização dessa política de “boa vizinhança” entre os setores em todas as esferas federativas.
Em Poções, o sucesso da intersetorialidade foi atribuído à construção de uma política coesa que dialogou com pais, professores e toda a sociedade, com a prefeita Nilda Magalhães apoiando a inclusão com esperança. A aceitação e a ausência de resistência ao programa demonstram que, quando a proposta não é imposta “de cima para baixo,” mas construída a partir da necessidade do sujeito, ela naturalmente ganha força. A Educação Integral, nesse contexto, torna-se um vetor de inclusão social que se manifesta no esporte, na cultura e, sobretudo, na superação das desigualdades.
O Desafio da Resistência Docente e a Transformação Curricular

Um dos maiores obstáculos no caminho da consolidação da Educação Integral é a resistência dos professores e professoras à mudança de paradigma. Fábio Roberto, Coordenador Estadual da Educação Integral, apontou que essa resistência é previsível, pois desagrada a quem tem sido historicamente negligenciado pelo poder político. O acesso dos filhos da classe trabalhadora a uma escola com mais sentido e um currículo que considere as possibilidades múltiplas de se educar é o enfrentamento mais importante.

Léa Souza, Consultora da FGV, explicou que a base de toda resistência é o medo, pois mexer com o fazer pedagógico é mexer com a concepção de educação que sustenta o docente. O currículo atual das universidades, muitas vezes, forma profissionais com uma visão fragmentada, tornando a transição para o currículo vivo da Educação Integral um desafio significativo. Para pacificar essa resistência, o texto sugere que a gestão local e estadual deve entender a oferta como política prioritária e investir em:
- Valorização Docente (carreira).
- Formação Continuada que dê sentido à nova atuação.
- Acolhimento, pois um professor não encantado não consegue encantar.
Além da formação continuada, a Professora Sirlene Machado reforçou que o currículo da formação inicial do professor de educação básica precisa ser urgentemente reformulado para contemplar a Educação Integral em seus aspectos múltiplos. A aceitação e a mudança de concepção do professor se tornam mais fáceis quando ele se sente sujeito do processo e entende que a Educação Integral é uma decisão política que promove equidade e o crescimento social, educacional e econômico.
A Potência do “Chão da Escola” e a Escuta do Território
A experiência do Colégio Municipal Otávio José Curvelo em Poções, que transformou-se de um espaço visto como “cadeia” em um espaço acolhedor e modelo a ser seguido, demonstra que o verdadeiro avanço da política se materializa no “chão da escola.” A vivência in loco revelou o sucesso da intersetorialidade, do calor humano na recepção, e do amor empregado na alimentação, provando que a Educação Integral é feita por quem está na escola.

A escuta amorosa e esclarecedora de alunos e famílias é um fator crucial para adaptar o currículo, conforme apontado pela Prof. Dra. Claudia Cristina. Muitas redes atentas ao território estão ampliando o currículo e a parte diversificada a partir do saber popular, contando com a colaboração de mestres griôs, capoeiristas e contadores de história. Essa integração de saberes locais é o que dá sentido à Educação Integral e garante que o desenvolvimento pleno do aluno, em suas dimensões cultural, social e emocional, seja contemplado.
A escola, nesse modelo, deixa de ser um espaço isolado e se torna o organismo principal na articulação dos eixos de governo. O objetivo não é apenas dar vida às normativas, mas sobretudo garantir que a Educação Integral se estabeleça como uma política que se torna vida no espaço escolar. Essa transformação é a única forma de oferecer aos estudantes historicamente negligenciados uma escola que tenha mais sentido e significado, cumprindo o direito de cada criança de ter prazer em estar ali.

