Em depoimento marcado por revelações surpreendentes e duras críticas, o tenente‑coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, admitiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que houve a elaboração de uma “minuta do golpe”, com participação ativa do ex-presidente. Porém, Cid tentou suavizar o fato, tratando toda a trama como meros papos de bar e bravata
1. A “minuta do golpe” e o envolvimento direto de Bolsonaro
Cid confirmou que o documento esboçava medidas drásticas, incluindo prisões de ministros do STF e parlamentares. Segundo ele, Bolsonaro leu o plano, fez cortes e preservou apenas a caça ao então ministro Alexandre de Moraes
No interrogatório, o ex-presidente teria alterado o texto, retirando outras prisões e mantendo apenas a de Moraes — situação que virou motivo de desdém no plenário
Há evidência de reuniões entre Bolsonaro e comandantes militares para avaliar a aplicação do decreto golpista — um movimento jamais admitido publicamente .
2. Conversa de bar ou crime institucional?
Cid procurou reduzir a gravidade dos relatos, dizendo que colegas militares zombaram de Moraes durante uma “conversa de bar” — cujo tom informal, segundo ele, tiraria importância jurídica ao caso .
Em tom teatral, chegou a relatar que havia entregado uma garrafa de guaraná e salgadinhos, mas o suposto ambiente descontraído foi contestado por outros presentes .
Apesar dessas tentativas de minimizar, especialistas apontam que o conteúdo da delação confirma claramente a intenção de fraudar o processo democrático.
3. O exército e o financiamento do plano
Cid revelou ainda que o ex‑comandante da Marinha, Almir Garnier, colocou “as tropas à disposição” do golpe e que o general Braga Netto enviou dinheiro vivo, em caixa de vinho, para financiar os acampamentos de pressão em frente aos quartéis Além disso, houve articulação por parte do general Mário Fernandes, via grupos de WhatsApp, para pressionar Bolsonaro e os militares a adotar medidas autoritárias Esses elementos reforçam a estruturação de um plano com base material e institucional, e não apenas uma bravata entre amigos.
4. Cid tenta se retratar, mas entrega versões contraditórias Em mais de uma ocasião, Cid afirmou que não houve coação para a delação, embora áudios divulgados indiciem o contrário, quando ele declarou que colaborou “num momento difícil” .
Tampouco negou ter participado de articulações para monitoramento de autoridades, como o ministro Moraes, feitas por meio de operadores militares .
Essa contradição entre dizer que tudo foi bravata e admitir responsabilidade reduz o espaço para interpretação benevolente.