Em um momento crucial para a política internacional, marcado por realinhamentos de poder e desafios globais interconectados, a atuação do Brasil no cenário mundial ganha relevância singular. A entrevista concedida pelo Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ao portal G1, oferece um panorama das prioridades e perspectivas da diplomacia brasileira para o ano de 2025. Vieira, diplomata de carreira com vasta experiência, incluindo passagens anteriores pelo mesmo ministério e embaixadas importantes , delineia a estratégia do governo brasileiro em face de um ambiente internacional complexo e dinâmico. A conversa com a jornalista Andreia Sadi aborda desde a liderança do Brasil no BRICS e a preparação para a COP30, até as intrincadas relações bilaterais e os esforços para promover a paz em regiões conflagradas. As declarações do ministro lançam luz sobre o papel que o Brasil busca desempenhar na construção de uma ordem global mais justa e equilibrada.
Prioridades da Política Externa Brasileira em 2025:
O ano de 2025 coloca o Brasil em uma posição de destaque na governança global, assumindo a presidência do BRICS e se preparando para sediar a COP30 em Belém. Essa dupla responsabilidade confere ao país uma oportunidade ímpar de moldar a agenda internacional, com foco na cooperação com o Sul Global e na promoção do desenvolvimento sustentável. A liderança brasileira no BRICS, que em 2025 expandiu sua composição, visa fortalecer a colaboração entre as nações em desenvolvimento, representando uma parcela significativa da economia e da população mundial. O lema da presidência brasileira, “Fortalecer a Cooperação do Sul Global para uma Governança Mais Inclusiva e Sustentável”, reflete a ambição de promover laços econômicos mais profundos, mobilizar financiamento para o combate às mudanças climáticas e buscar uma ordem global mais equitativa.
A crença na importância do multilateralismo permeia a política externa brasileira, com o país buscando ativamente a reforma das estruturas de governança global. O Ministro Vieira enfatiza a necessidade de revitalizar organizações multilaterais, como a ONU e a OMC, para que possam responder de forma eficaz aos desafios contemporâneos. A visão brasileira defende um sistema internacional enriquecido pela existência de múltiplos polos de poder e perspectivas diversificadas, onde as economias emergentes tenham maior participação nas decisões globais. Essa postura reflete a convicção de que um mundo multipolar, construído sobre bases de equidade e representatividade, é fundamental para a promoção da paz e da segurança internacionais.
Em um cenário geopolítico complexo, marcado pela crescente rivalidade entre grandes potências, o Brasil adota uma estratégia de não alinhamento, buscando manter uma equidistância entre os Estados Unidos e a China. Essa abordagem visa preservar a autonomia do país e maximizar sua flexibilidade estratégica, permitindo que o Brasil atue como uma ponte entre o Norte e o Sul Global. A política externa brasileira busca cultivar relações pragmáticas com diversos parceiros, independentemente de suas posições ideológicas, priorizando os interesses nacionais e a busca por soluções negociadas para os conflitos internacionais.
Desafios e Perspectivas em Relações Bilaterais:
As relações do Brasil com seus vizinhos na América Latina representam um pilar fundamental de sua política externa, embora apresentem desafios complexos, como no caso da Venezuela. O governo brasileiro tem demonstrado preocupação com a estabilidade regional e busca manter canais de diálogo abertos, defendendo que as soluções para as crises políticas devem ser construídas pelos próprios países, sem interferências externas. A relação com a Venezuela, em particular, tem exigido uma diplomacia cautelosa, equilibrando a defesa dos princípios democráticos com a necessidade de preservar a comunicação e evitar o isolamento do país vizinho.
Além da América Latina, o Brasil tem intensificado suas parcerias bilaterais com diversos países ao redor do mundo, como a Índia. A visita do Ministro Vieira à Índia para co-presidir a reunião da Comissão Mista Brasil-Índia demonstra o interesse em fortalecer a parceria estratégica estabelecida entre os dois países, explorando novas avenidas de cooperação em áreas como comércio, investimento e tecnologia. Encontros com ministros de relações exteriores de países como França, Armênia, Jamaica e Filipinas também evidenciam uma diplomacia brasileira ativa e engajada em diversas frentes.
No que concerne aos desafios globais, o Brasil tem se posicionado em relação a conflitos como a guerra na Ucrânia e a situação em Gaza. A postura brasileira tem sido de condenação à invasão da Ucrânia e de apelo a uma solução negociada para o conflito. Em relação a Gaza, o Brasil tem criticado a resposta de Israel, defendendo a necessidade de um cessar-fogo e de uma solução pacífica para a questão palestina. A convocação do embaixador de Israel pelo Ministro Vieira após declarações controversas do primeiro-ministro israelense ilustra a firmeza da posição brasileira em defesa do direito internacional e dos direitos humanos.
Diplomacia Econômica e a Agenda Global:
A diplomacia econômica desempenha um papel central na política externa brasileira, buscando promover o comércio, atrair investimentos e fortalecer a posição do país na economia global. O Brasil tem como objetivo diversificar suas relações comerciais e reduzir a dependência de mercados específicos, buscando novas oportunidades em países do Sul Global e em economias emergentes. A participação ativa em fóruns como o BRICS é vista como estratégica para a promoção de uma ordem econômica internacional mais justa e equilibrada.
A presidência brasileira do BRICS em 2025 coloca em pauta temas como a reforma da governança financeira global e a discussão sobre mecanismos financeiros alternativos. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como Banco do BRICS, desempenha um papel crucial no financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países membros. O Brasil busca fortalecer o NDB e promover o uso de moedas locais nas transações comerciais entre os países do bloco, como forma de reduzir a dependência do dólar americano.
O Brasil também assume um protagonismo crescente na agenda global de sustentabilidade, com a preparação para sediar a COP30 em Belém. O país, que possui uma matriz energética com forte participação de fontes renováveis, busca liderar as discussões sobre a transição energética e o financiamento climático, defendendo a necessidade de um compromisso global ambicioso para a redução de emissões de gases de efeito estufa. A iniciativa da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza demonstra o engajamento do Brasil em enfrentar desafios humanitários globais, buscando mobilizar recursos e estratégias para combater a insegurança alimentar, especialmente nos países em desenvolvimento.
A atuação do Brasil na geopolítica de 2025, sob a liderança do Ministro Mauro Vieira, reflete uma estratégia de diplomacia ativa e engajada, buscando equilibrar prioridades internas com as demandas de um cenário internacional complexo. A ênfase na cooperação Sul-Sul, no multilateralismo e na busca por soluções pacíficas para os conflitos demonstra a ambição do Brasil de desempenhar um papel relevante na construção de uma ordem global mais justa e sustentável. As declarações do ministro sinalizam um compromisso com a defesa dos interesses nacionais, ao mesmo tempo em que se busca fortalecer a imagem do Brasil como um ator global responsável e influente.