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Hélio Liborio

Pitaco

A Política Baiana: Entre Ambições Pessoais e a Dança das Cadeiras

Português

O complexo cenário político da Bahia para 2026, com suas alianças voláteis e figuras buscando protagonismo, revela uma política mais pautada por ambições individuais e arranjos de bastidores do que por projetos ideológicos claros, em uma dança de cadeiras onde a coerência programática muitas vezes cede lugar à conveniência eleitoral.
A análise do tabuleiro político baiano para 2026, conforme descrito, sugere uma paisagem onde a personalização da política atinge níveis notáveis. Em vez de embates programáticos ou choques ideológicos evidentes, o que se observa é um foco quase exclusivo nas ambições individuais de figuras como Marcelo Nilo, Cacá Leão (pai) em prol de seu filho, e João Roma, todos buscando seu quinhão de protagonismo. Essa dinâmica levanta uma crítica fundamental: estaria a política baiana refém das vontades de seus “coronéis” modernos, descolada de um debate mais profundo sobre os rumos do estado? O vácuo ideológico parece ser preenchido por um pragmatismo extremo, onde o “quem” importa mais que o “quê”.
Essa centralidade nas figuras singulares, como a de Bruno Reis liderando o conglomerado de ACN ou a de Jaques Wagner exercendo sua influência sobre o PT, cria uma dependência excessiva de poucos atores. A força de José Ronaldo em Feira de Santana é outro exemplo dessa concentração de poder. A crítica reside na fragilidade das alianças construídas sobre a base de acordos pessoais e projeções de voto, em detrimento de uma sólida base programática ou ideológica. Tais alianças, como a “junção que ainda não se ajustou” do grupo de ACN, correm o risco de serem efêmeras e vulneráveis a cada nova ambição que surge, ou a cada “decepção” que se manifesta, tornando o processo político volátil e imprevisível.
Ademais, a descrição de que “cada um na sua tribo dispara contra seu oponente governo do estado” sem uma unidade clara sugere uma estratégia mais difusa e menos eficaz de oposição. A pulverização das forças, mesmo que sob uma mesma “tendência”, pode diluir o impacto e a credibilidade de um discurso coeso, tornando a narrativa da oposição fragmentada e menos persuasiva para o eleitor. A ausência de um líder inconteste na oposição e a primazia das ambições individuais sobre o projeto coletivo são sintomas de um sistema que privilegia a “dança das cadeiras” em detrimento de um debate programático robusto.
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A Força do Canto da Sereia Federal e o Dilema da Autonomia Estadual
A descrição da influência do “guru” Presidente Lula e sua capacidade de oferecer “ministérios e outras benfeitorias” para moldar as decisões políticas na Bahia é um ponto crítico que expõe a tensão entre a autonomia estadual e a interferência federal. A “palavra final” do Presidente sobre a chapa do PT na Bahia demonstra como as dinâmicas políticas estaduais podem ser subordinadas aos interesses e estratégias de Brasília. Embora a influência de líderes nacionais seja natural, a submissão total de uma chapa estadual a um arranjo federal levanta questionamentos sobre a genuína representatividade das escolhas feitas e o espaço para a vontade popular local.
A crítica se aprofunda ao considerar o desejo presumido de Jaques Wagner de que o governador Jerônimo Rodrigues renuncie à reeleição para abrir espaço para Rui Costa e, com isso, “não correr o risco de perder o maior grupo político da Bahia hoje: Otto Alencar”. Essa é uma manobra de bastidores que, se concretizada, revela um cálculo frio de poder, onde a prerrogativa da reeleição e o desejo popular podem ser sacrificados em nome de um arranjo que visa a manter um grupo político coeso e evitar debandadas. A “lealdade” partidária e as ambições individuais parecem se sobrepor à lógica eleitoral direta e à autonomia do governador em exercício.
A aproximação de Geddel Vieira Lima para “suprir uma eventual debandada de Coronel” também é um ponto de crítica significativo. Essa busca por uma figura de um “partido conservador que não existe mais” para preencher um vácuo revela uma flexibilidade ideológica que pode custar ao PT a simpatia de seus eleitores mais tradicionais e de sua base mais progressista. A pragmatismo excessivo, ao buscar aliados com perfis tão distintos em nome da sobrevivência política, pode diluir a identidade do partido e alienar seu eleitorado mais fiel, questionando a coerência de seus valores e plataformas políticas.
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A Superfície das Redes Sociais e o Valor do Voto na Cabine Eleitoral
A menção de que a cada minuto um vídeo novo chega às redes sociais, buscando convencer o leitor sobre o “melhor candidato”, é um retrato crítico da superficialização do debate político. A campanha se antecipa e se fragmenta em micro-discursos, frequentemente mais preocupados em promover a imagem individual de um pré-candidato do que em apresentar propostas consistentes para os desafios do estado. Essa “dança” nas redes sociais pode ser interpretada como uma tentativa de manipular a percepção pública antes mesmo que as candidaturas estejam definidas, criando um ambiente de persuasão constante, mas muitas vezes raso.
A crítica reside na distância entre essa “performance” digital e a complexidade dos problemas reais da Bahia. Enquanto os políticos jogam nas redes sociais buscando “um possível crescimento nas pesquisas para assumir este tão desejado lugar de ser o principal jogador”, o eleitor pode se sentir alheio a essa disputa de poder, buscando respostas concretas para a saúde, educação, segurança e emprego. A eficiência dessa estratégia de “convencimento” pré-eleitoral é questionável, pois pode gerar mais ruído do que engajamento genuíno e informação útil.
No entanto, a coluna crítica termina com um ponto crucial de otimismo para a democracia: “Mas dentro da cabine eleitoral, na hora certa; o eleitor terá a prerrogativa do valor de seu voto ou não.” Essa frase resgata a agência do eleitor, um lembrete de que, apesar de toda a complexidade das articulações de bastidores, das ambições pessoais e das influências externas, a decisão final pertence ao cidadão. É na urna que a “dança” ganha seu verdadeiro sentido, e onde as estratégias mais intrincadas podem ser validadas ou derrubadas pela soberania do voto popular, reafirmando que, apesar de todo o jogo de poder, a última palavra cabe ao povo.
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O cenário político da Bahia para 2026 desenha-se como um emaranhado de ambições individuais, alianças pragmáticas e influências externas, onde a complexa “dança da busca pelo governo” se sobrepõe, por vezes, ao debate programático. No entanto, é na prerrogativa do eleitor, dentro da cabine eleitoral, que reside a capacidade de transcender essas articulações de bastidores e, finalmente, definir os rumos do estado.

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