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Hélio Liborio

Pitaco

A Diplomacia do Ego e o Custo da Desconsideração

Português

A declaração de Donald Trump, “Porque eu posso”, como justificativa para impor tarifas de 50% ao Brasil, é a essência de uma diplomacia do ego, onde a vontade pessoal e a afirmação de poder suplantam qualquer racionalidade econômica ou princípio de cooperação internacional. Essa postura, que beira a arbitrariedade, não apenas desrespeita os acordos e as instituições multilaterais, mas também expõe uma visão de mundo onde a força bruta é a única moeda de troca. O custo dessa desconsideração, no entanto, não recai apenas sobre o alvo, mas sobre a própria estabilidade do sistema comercial global.
A menção de que o Brasil é “visto com chacota e é motivo de zombaria” é um golpe retórico que visa a deslegitimar a nação no cenário internacional. É uma tática de desmoralização que, se não for rebatida com inteligência e altivez, pode corroer a credibilidade do país e sua capacidade de negociação. A diplomacia não se faz apenas com poder econômico ou militar, mas também com reputação, confiança e respeito mútuo. A tentativa de minar esses pilares é um ataque direto à autonomia e à soberania de um Estado.
O Brasil, ao ser confrontado com essa retórica, precisa mais do que nunca de uma estratégia que combine firmeza e pragmatismo. Não se trata de ceder à provocação, mas de defender seus interesses com argumentos sólidos e ações coordenadas. A melhor resposta à diplomacia do ego é a solidez institucional, a diversificação de parcerias e a reafirmação de um compromisso com o multilateralismo e o diálogo. A “chacota” só se concretiza se a nação permitir que sua imagem seja definida por discursos alheios, em vez de pautá-la por suas próprias ações e valores.
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A Arbitrariedade como Norma e o Desafio da Previsibilidade
A resposta “porque eu posso” eleva a arbitrariedade à categoria de norma nas relações internacionais, um cenário que desafia a própria previsibilidade do comércio global. Em um ambiente onde decisões de impacto bilionário podem ser tomadas sem justificativas claras ou base em acordos pré-existentes, a incerteza se torna a regra. Essa volatilidade prejudica o planejamento de longo prazo de empresas e governos, inibindo investimentos e desorganizando cadeias de valor que dependem da estabilidade e da confiança mútua.
A ausência de um debate substantivo sobre as implicações econômicas de uma tarifa de 50% não é um mero descuido; é uma recusa em engajar-se de forma construtiva. Essa postura demonstra uma preferência por confrontos em detrimento de soluções negociadas, e coloca em risco os benefícios do livre comércio que, em tese, deveriam impulsionar o crescimento global. A imposição unilateral, sem a devida justificativa, convida à retaliação e à escalada de tensões, um ciclo vicioso que, no longo prazo, se mostra prejudicial para todas as partes envolvidas, incluindo a própria economia dos Estados Unidos.
Portanto, a resposta a essa postura não pode ser apenas econômica, mas fundamentalmente política e estratégica. É preciso reafirmar a importância do diálogo, da cooperação e do respeito às regras do comércio internacional. A luta contra a narrativa do “porque eu posso” é, em última análise, a defesa de um sistema global mais equilibrado e justo, onde as decisões são tomadas com base em argumentos e dados, e não meramente na imposição da força. A previsibilidade e a confiança são ativos valiosos que não podem ser sacrificados em nome de retóricas polarizadoras.
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A Geopolítica da Percepção e a Defesa da Imagem Nacional
A afirmação de que o Brasil é “visto com chacota” é mais do que uma ofensa; é um movimento na geopolítica da percepção, onde a imagem de uma nação pode ser instrumentalizada para fins políticos. Essa narrativa busca minar a credibilidade do país, afetando sua capacidade de negociação e sua atração de investimentos. Em um mundo hiperconectado, onde a informação (e a desinformação) se propaga rapidamente, a gestão da imagem nacional torna-se uma prioridade estratégica, exigindo proatividade e discernimento para rebater narrativas negativas.
A resposta brasileira a tal provocação deve ser pautada pela serenidade e pela inteligência diplomática. O país não deve se deixar levar por provocações que o arrastem para embates meramente retóricos. Em vez disso, a ênfase deve ser na continuidade do fortalecimento de suas instituições democráticas, na promoção de um ambiente de negócios transparente e seguro, na diversificação de suas parcerias comerciais e no reforço de sua imagem como um ator global sério e engajado em soluções multilaterais. A melhor forma de refutar a “chacota” é demonstrar solidez e propósito.
O Brasil possui um potencial imenso em diversas áreas – do agronegócio à energia renovável, da biodiversidade à cultura vibrante. A projeção desses atributos, aliada a uma diplomacia ativa e a uma política interna consistente, é o caminho para consolidar a posição do país como um parceiro confiável e respeitado. Essa estratégia de longo prazo é fundamental para que o país possa defender seus interesses e contribuir para a estabilidade global, independentemente das oscilações da retórica política externa de outras nações, transformando a adversidade em oportunidade para reafirmar sua soberania e relevância.

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