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Hélio Liborio

A Antologia “Mulheres Negras”: Vozes, Olhares e Mãos – Uma Obra de Reafirmação

A coletânea "Mulheres Negras: vozes, olhares e mãos" emerge como um pilar de reafirmação da presença e da capacidade criativa da mulher negra na literatura, preenchendo lacunas históricas e celebrando narrativas de resiliência e empoderamento autoral.

A antologia “Mulheres Negras: vozes, olhares e mãos” é muito mais do que uma mera compilação de textos; é um projeto de reafirmação da presença e da capacidade criativa da mulher negra, em um espaço que historicamente as excluiu. A sua chegada à 1ª edição não é apenas um feito editorial, mas um atestado da relevância e da necessidade persistente de dar voz a quem, por tanto tempo, foi silenciado. A idealização de Delma Pereira preenche uma lacuna deixada por uma narrativa histórica que distanciou a mulher negra da produção intelectual, da conquista de notoriedade e da ocupação de espaços que foram prioritariamente direcionados a outras mulheres.

O propósito central da obra é criar um ambiente onde as questões raciais das mulheres possam ser livremente expressas por meio de suas narrativas autorais. Cada autora, com sua “escrita autoral, peculiar de suas histórias, vidas e marcas das suas resiliências”, contribui para um panorama multifacetado da experiência feminina negra. A antologia celebra a diversidade de “seus corpos, seus cabelos, seus rostos, seus olhares, suas vozes, suas profissões”, transformando essas perspectivas em ferramentas potencializadoras de escrita. É um ato de empoderamento, que permite que a identidade e a experiência sejam protagonistas em suas próprias vozes.

A antologia se posiciona como um espelho de “uma diversidade de talentos e produções da própria raça”, que agora, por meio do livro, “ganha o mundo a notoriedade dos seus devidos lugar”. Esse processo de reconhecimento e de visibilidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais equitativa e representativa. A obra não é apenas um registro de talentos individuais, mas um coletivo que ressoa, ecoando a força e a capacidade criativa de mulheres negras, tornando suas contribuições inegáveis e acessíveis a um público mais amplo, desafiando narrativas dominantes e construindo um novo legado literário.


Narrativas de Resiliência e a Força da Escrita Autoral Feminina Negra

A essência da antologia reside na capacidade de falar sobre as questões raciais das mulheres através de suas próprias vozes e perspectivas, com uma escrita autoral que se distingue pela sua peculiaridade. Cada uma das 64 autoras negras presentes na obra tece uma trama de vivências que se manifestam em suas histórias, em suas vidas e, de forma mais marcante, nas “marcas de suas resiliências”. Essas narrativas não são meros relatos; são testemunhos de superação, de resistência e de uma capacidade inata de transformar as adversidades em força motriz para a criação e a expressão.

O livro se torna um palco onde a diversidade da mulher negra é celebrada em todas as suas dimensões. As autoras abordam a complexidade de “seus corpos, seus cabelos, seus rostos, seus olhares, suas vozes, suas profissões”, oferecendo uma rica tapeçaria de identidades e experiências. Essa abordagem multifacetada é crucial para desconstruir estereótipos e para apresentar a mulher negra em sua plenitude, com suas conquistas, seus desafios e suas contribuições em diversos campos da vida social e profissional. A antologia, nesse sentido, é uma ferramenta potencializadora, que utiliza a escrita como meio para dar visibilidade a essas múltiplas perspectivas.

Ao centralizar a “diversidade de talentos e produções da própria raça”, a antologia não apenas exibe o potencial criativo, mas também reivindica o “devido lugar” dessas vozes no cenário cultural. É um movimento de autoafirmação e de empoderamento coletivo, que desafia a invisibilidade histórica e o silenciamento impostos. A escrita autoral dessas mulheres se torna um ato de coragem e de resistência, um meio de resgatar a própria agência e de moldar suas narrativas conforme suas próprias visões, contribuindo para a construção de um legado literário que reflete a riqueza e a pluralidade da cultura afro-brasileira.


O Legado de Tereza de Benguela e o Grito das “Menguelenses” Contemporâneas

A antologia “Mulheres Negras: vozes, olhares e mãos” se conecta profundamente com o legado de Tereza de Benguela, uma figura histórica que simboliza a resistência e a liderança negra feminina no Brasil. Ao evocar a memória de Tereza de Benguela, a obra estabelece um elo com uma linhagem de força e coragem, inspirando as autoras a se posicionarem como as “menguelenses” da atualidade. Essa referência histórica não é meramente simbólica; ela contextualiza a luta contemporânea das mulheres negras por reconhecimento e equidade, enraizando suas narrativas em um passado de resistência e luta pela liberdade e dignidade.

A expressão “a cada dia, daqui, dali, e acular, grita e grita muito forte sem precisar se esconder, mas sendo vista e bravamente falando, escrevendo contra todo racismo e preconceito” encapsula a essência do que a antologia representa. As 64 autoras, ao compartilhar suas experiências em uma obra literária composta por 100% de gênero negro feminino, transformam a escrita em um ato de ativismo. Elas não apenas registram suas vivências, mas também as utilizam como armas contra as estruturas racistas e preconceituosas que persistem na sociedade, manifestando-se por meio da arte e da literatura.

A obra, portanto, é um testemunho da evolução da luta por visibilidade e reconhecimento. As “menguelenses” de hoje não se escondem; elas se expõem, com bravura, por meio de suas palavras, desafiando o silenciamento e a invisibilidade impostos pela história. Essa ousadia de “ser vista e bravamente falando, escrevendo” confere à antologia um caráter de manifesto, um chamado à consciência e uma celebração da força e da resiliência das mulheres negras. A literatura, nesse contexto, torna-se um campo de batalha e um espaço de cura, onde as vozes se unem em um coro potente que exige respeito e igualdade.


O Lançamento em Feira de Santana: Celebração e Acessibilidade Cultural

O lançamento da antologia “Mulheres Negras: vozes, olhares e mãos” está marcado para o dia 03 de agosto, (domingo), às 09h, no Centro Integrado de Educação Municipal Professor Joselito Falcão de Amorim (R. Cel. Álvaro Simões, 101 – Centro, Feira de Santana – BA, ao lado do Fórum Felinto Bastos, cidade natal da idealizadora Delma Pereira. Este evento não é apenas uma formalidade editorial, mas uma celebração da potência da escrita feminina negra e um momento de encontro entre as autoras, a comunidade e o público interessado em suas narrativas. A escolha de um domingo pode ser estratégica para garantir uma maior presença de público, facilitando o acesso de pessoas que trabalham durante a semana e que desejam participar desse momento histórico e culturalmente relevante.

A obra, que dialoga com as experiências de 64 autoras, com idades que variam entre 15 e 78 anos, abrange um espectro geracional notável. Essa diversidade etária enriquece a coletânea, trazendo diferentes perspectivas sobre as vivências da mulher negra ao longo do tempo, desde as mais jovens, com suas visões contemporâneas, até as mais experientes, com suas memórias e sabedorias acumuladas. Mais de “300 laudas de grandes relatos transformados em uma escrita linda, encantadora” prometem oferecer uma leitura rica e emocionante, conectando os leitores às histórias de mulheres que são protagonistas de si mesmas e, por meio do livro, tornam-se protagonistas para todos. A questão da acessibilidade à obra também é contemplada, com a informação de que a “primeira triagem será no valor de R$35,00 no local do evento”. Esse preço, possivelmente subsidiado ou acessível, busca garantir que a obra chegue a um público amplo, sem que o custo seja uma barreira para a aquisição e leitura. A decisão de oferecer um valor acessível no lançamento reflete o compromisso com a democratização do conhecimento e com a disseminação dessas importantes narrativas, garantindo que as vozes das “Mulheres Negras: vozes, olhares e mãos” alcancem o maior número possível de leitores e ecoem por toda a sociedade.