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Hélio Liborio

Pitaco

Aceleração da Justiça ou Gesto Político?

Português

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de pedir uma sessão extra para o julgamento dos réus da trama golpista não é apenas um ato de gestão processual; é um movimento político calculado que demonstra o poder e a influência do Judiciário em momentos de crise. A justificativa interna de “não quebrar o ritmo” do julgamento é uma forma diplomática de dizer que a celeridade é uma prioridade, e que o STF não permitirá que o processo se estenda indefinidamente. Essa pressa, embora justificada pela gravidade dos crimes, pode ser lida também como uma forma de controle da narrativa. Ao acelerar o desfecho, o STF minimiza o espaço para manobras políticas e pressões externas que poderiam se acumular com o tempo, garantindo que a decisão seja proferida enquanto o tema ainda está no centro das atenções.
A quebra de protocolo de Moraes ao iniciar o julgamento com uma declaração sobre a “impunidade” não foi um ato de retórica vazia; foi um sinal claro de seu posicionamento. Ele usou a tribuna da corte para enviar recados políticos, tanto para a oposição interna quanto para figuras internacionais como Donald Trump. Essa atitude mostra que, para Moraes, o julgamento é mais do que um caso jurídico; é um campo de batalha ideológico. Ele está moldando o debate público e a percepção do caso, usando o processo para reafirmar a autoridade do Judiciário e a sua própria. A presença da ministra Cármen Lúcia, do TSE, é outro elemento que ressalta a dimensão política do evento, pois a decisão do STF terá impacto direto na elegibilidade de Bolsonaro.
O julgamento do núcleo da trama golpista é um momento crucial na história política do Brasil. Ele expõe a tensão entre o tempo da justiça e a urgência da política. A decisão do STF de acelerar o processo é uma demonstração de que o Judiciário, em um cenário de polarização extrema, está disposto a atuar como um ator central para garantir a estabilidade democrática. A questão não é apenas se os réus serão condenados, mas como a decisão do STF será interpretada pela sociedade e pelo sistema político. A celeridade imposta por Moraes e Zanin pode ser vista como um ato de força para garantir que a justiça seja feita e que o Judiciário não seja percebido como lento ou hesitante diante de uma ameaça tão grave. O desfecho rápido do julgamento, portanto, é uma vitória da narrativa judicial sobre a narrativa política, um movimento que busca dar a última palavra sobre os fatos antes que o tempo ou outras forças possam diluí-los.

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