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Hélio Liborio

Pitaco

O Gesto de Zema e a Síndrome do “Pulo do Gato”

Português

Neste tabuleiro de xadrez chamado política, onde cada movimento é calculado e cada silêncio, uma estratégia, a pré-candidatura de Romeu Zema não é apenas um lance, é um pitaco ousado. O governador de Minas, com seu perfil de tecnocrata austero, viu o vácuo deixado pela indefinição da direita e decidiu, com a confiança de quem arrumou a casa, pular nele de cabeça. O gesto é de uma astúcia inegável. Enquanto outros líderes tateiam em busca de consenso, Zema se lança, ocupando o espaço com a narrativa de que ele não é o passado, mas a solução pragmática para o futuro.
A grande questão, contudo, é se o “gestor” consegue ser, ao mesmo tempo, o “líder”. O sucesso em Minas Gerais se baseou na imagem de um homem que resolveu um problema específico – o fiscal. A nação, no entanto, é um emaranhado de problemas que não se resumem a planilhas: são questões sociais, culturais, identitárias. A política presidencial não é um escritório de CEO; é um caldeirão de paixões, de simbolismos e de narrativas. O eleitorado brasileiro, muitas vezes, não vota por eficiência, mas por identificação, por sonho. E o sonho, convenhamos, não é de um gestor que “põe a casa em ordem”, mas de um líder que inspira a esperança.
No fim das contas, a audácia de Zema se choca com a fragmentação da própria direita que ele pretende unificar. O campo conservador é um mosaico de interesses e ideologias que vão muito além do liberalismo econômico que ele defende. O “outsider” de Minas, ao tentar se impor, pode acabar se tornando mais um dos muitos a disputar um espaço limitado, diluindo ainda mais a força de um campo que precisa, urgentemente, de um consenso. Seu movimento, por mais estratégico que seja, arrisca-se a ser apenas um lampejo de esperança em um jogo complexo, onde o pragmatismo pode ser a virtude, mas raramente é a faísca que acende a chama.

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