A cidade de Alagoinhas foi palco, mais uma vez, de uma iniciativa transformadora no campo da educação e da ciência, com a realização da III Zoogicana, “Últimos da Espécie: O Eco da Despedida”, promovida pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus II. O evento, que transcendeu os muros acadêmicos para ocupar a Praça do Esporte, representou uma fusão exemplar entre o rigor científico e a leveza da abordagem lúdica, com o propósito inequívoco de sensibilizar a comunidade, em especial os estudantes da educação básica, para a urgência da preservação da biodiversidade e o drama da extinção de espécies. Sob a coordenação das professoras Eltamara Conceição e Maria Sales, a Zoogicana consolidou-se como uma ação de extensão vital, que não apenas cumpre um papel curricular, mas, acima de tudo, materializa o compromisso da universidade pública com o desenvolvimento social e a troca de saberes.

A Zoogicana é, em sua essência, um testemunho da capacidade da UNEB de ir além de sua função tradicional de ensino e pesquisa, projetando-se como um agente ativo de transformação social. A iniciativa, que integra a curricularização da extensão — uma atividade obrigatória para os estudantes de diversas disciplinas —, demonstra como o aprendizado acadêmico pode e deve estar intrinsecamente conectado às demandas e realidades da comunidade. Essa ponte entre a academia e o cotidiano da população é fundamental para desmistificar a universidade, tornando-a mais acessível e relevante para o público em geral, e para mostrar o valor social do conhecimento produzido em seus laboratórios e salas de aula.
O tema escolhido para esta terceira edição, “Últimos da Espécie: O Eco da Despedida”, reflete uma preocupação premente com a crise ambiental global. Abordar a extinção de espécies de maneira lúdica e divertida, por meio de stands, brincadeiras e jogos, é uma estratégia pedagógica inteligente que permite discutir um assunto sério e complexo com um público jovem, estimulando o despertar para o cuidado com o meio ambiente e a valorização da rica biodiversidade brasileira. O evento, que contou com a participação ativa de licenciandos de biologia, estudantes voluntários e escolas públicas de Alagoinhas e municípios vizinhos, como Aramari e Ouriçangas, consolidou-se como um espaço de vivência e de construção coletiva do saber, reafirmando o papel da UNEB como uma instituição de portas abertas para a sociedade.
A Zoogicana como Ação de Extensão e Curricularização: Quebrando Muros e Paradigmas
A professora Eltamara Conceição, uma das mentes por trás da III Zoogicana, enfatiza o caráter de ação de extensão do evento, que se insere na política de curricularização da extensão da UNEB. Esse modelo inovador transforma a extensão universitária em uma atividade obrigatória para os estudantes de diversas disciplinas, garantindo que o conhecimento produzido na academia não fique restrito aos “muros da universidade”. É uma forma de o estudante vivenciar na prática a aplicação de seus aprendizados, conectando a teoria à realidade social e desenvolvendo uma consciência crítica sobre seu papel como futuro profissional.

Para além da obrigatoriedade curricular, a Zoogicana representa uma oportunidade ímpar de integrar a Universidade à comunidade. A fala da professora Eltamara ressalta o desejo de “mostrar para a comunidade as atividades que a gente desenvolve dentro dos muros da universidade que vai além do processo formativo dos estudantes e das linhas duras da pesquisa”. Essa abertura é crucial para desmistificar a imagem da universidade como uma torre de marfim, distante das preocupações cotidianas da população. Ao levar a ciência e a pesquisa para a praça pública, a UNEB demonstra que seu trabalho tem um impacto direto na vida das pessoas, gerando reflexão sobre temas vitais.
A Zoogicana, nesse sentido, não é apenas um evento pontual, mas uma manifestação da identidade da UNEB como uma instituição engajada socialmente. A troca de saberes que ocorre nesse intercâmbio entre a universidade e a comunidade é um processo de mão dupla, onde não apenas a academia compartilha conhecimento, mas também aprende com as realidades e as demandas locais. Essa interação contribui para “quebrar os paradigmas” sobre o que é e para que serve uma universidade pública, mostrando que ela é um espaço de construção coletiva, de reflexão sobre a vida, o meio ambiente e as riquezas da biodiversidade, e de acesso ao conhecimento para todos.
Ciência Lúdica e o Tema da Extinção: Educando para a Preservação
A professora Maria Sales, também coordenadora da Zoogicana, destaca que esta é a terceira edição do evento, consolidando-o como um marco no calendário da UNEB Alagoinhas. O principal objetivo da Zoogicana é “colocar os estudantes da educação básica em contato com a ciência de maneira lúdica, leve, divertida”. Essa abordagem pedagógica é crucial para despertar o interesse de crianças e adolescentes por temas científicos, desmistificando a ideia de que a ciência é algo complexo e inacessível. Ao transformar o aprendizado em brincadeira, a universidade cria um ambiente acolhedor e estimulante para a descoberta.

O tema escolhido para esta edição, “Últimos da Espécie: O Eco da Despedida”, é de uma sensibilidade e urgência notáveis. Abordar a extinção das espécies em um contexto de stands, brincadeiras e jogos é uma estratégia inteligente para discutir uma “coisa muito séria, que é a preservação da nossa fauna”, sem cair no alarmismo ou na complexidade excessiva. A ludicidade atua como um mediador, permitindo que as crianças compreendam a gravidade do problema de forma acessível e sejam incentivadas a refletir sobre suas próprias ações em relação ao meio ambiente.
A Zoogicana, portanto, não é apenas um evento de entretenimento, mas uma poderosa ferramenta de conscientização ambiental. Ao apresentar o tema da extinção de forma divertida, a UNEB capacita os licenciandos de biologia a desenvolverem atividades pedagógicas de maneira “leve, gostosa”, ao mesmo tempo em que cumprem seu papel formativo. Essa experiência prepara os futuros professores para lidar com temas complexos em sala de aula, utilizando metodologias inovadoras que engajam os alunos e os inspiram a se tornarem agentes de mudança na proteção da biodiversidade.
A UNEB de Portas Abertas: Intercâmbio de Saberes e Quebra de Paradigmas
A professora Eltamara Conceição reitera que a UNEB já faz esse intercâmbio e essa troca de saberes de forma contínua, e não apenas por meio da Zoogicana. Essa é uma “atividade de identidade da instituição”, que se manifesta em diversas ações que buscam receber a comunidade e “quebrar os paradigmas” sobre o que é uma universidade. A abertura dos campi para a população é fundamental para desmistificar o ambiente acadêmico, mostrando que ele é um espaço de produção de conhecimento acessível a todos, e não apenas a um grupo seleto.

O convite para a comunidade “conhecer o nosso curso, nosso laboratório e saber mais dos nossos projetos” demonstra a transparência e o desejo da UNEB de compartilhar suas riquezas. Além das disciplinas de biologia, outros cursos da universidade também se engajam em atividades de extensão, como feiras, mostras e trilhas ecológicas, promovendo um aprendizado interdisciplinar e conectado com a realidade local. Essa diversidade de ações reforça a ideia de que a universidade é um polo de conhecimento que pode beneficiar a todos, independentemente de sua área de interesse.
Essa “troca de saberes” é um processo de mão dupla. A universidade não apenas transmite conhecimento, mas também aprende com as experiências e as demandas da comunidade, ajustando suas pesquisas e projetos para atender às necessidades locais. Essa interação fortalece os laços entre a UNEB e a sociedade, construindo um senso de pertencimento e de corresponsabilidade no desenvolvimento regional. A abertura das portas da universidade é, portanto, um ato de democratização do conhecimento e um investimento no futuro da comunidade.
Experiências dos Estudantes da UNEB: Ciência e Geometria em Ação
A participação ativa dos estudantes da UNEB é um dos pilares da Zoogicana, evidenciando o engajamento e a dedicação dos futuros profissionais. Beatriz Oliveira, estudante e voluntária de extensão do Museu de Arte e Biologia da UNEB, além de bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa (Capesb), exemplifica o entusiasmo acadêmico. Ela descreve a oportunidade de mostrar o museu, com sua “coleção de caixa sintomológica” e “coleção líquida”, e a importância dos insetos, além de apresentar a “cerola de formigas de várias espécies” no laboratório. Essa interação direta com o público permite que os estudantes compartilhem seu conhecimento e paixão pela ciência.
Beatriz também destaca que o foco das pesquisas do museu está em um “pedaço da mata atlântica” que serve como material de estudo e pesquisa para a preservação das plantas. A socialização desse conhecimento, inclusive através de projetos de mestrado, demonstra a relevância da pesquisa universitária para a comunidade. A UNEB, por meio do Departamento de Ciências Exatas e da Terra, também mantém um projeto de parque que realiza trilhas ecológicas com escolas e visitantes, buscando “conhecer toda a diversidade da mata”, reforçando a integração entre pesquisa, ensino e extensão.

Outra iniciativa de destaque é o projeto de extensão “Resgatando o Ensino de Geometria nas Escolas Públicas”, conhecido como ENGEL, representado pela estudante de licenciatura em matemática Luana. O ENGEL, que surgiu em 2007 por iniciativa de professores de matemática da UNEB Campus II, visa a suprir a “escassez” do ensino de geometria nas escolas públicas. O projeto oferece formação continuada e cria “materiais manipuláveis adaptáveis para mãos de cego”, demonstrando um compromisso com a inclusão e a inovação pedagógica. Coordenada pela professora Dra. Maridete Brito Cunha, Luana, vai vivenciar seu relato de experiência apresentando em Manaus, como parte dessa construção do saber, evidenciando a relevância nacional do trabalho desenvolvido na UNEB.

O Olhar do Professor: Valorização da Educação Pública e Parcerias
O professor Giusepe, egresso do curso de Ciências Biológicas da UNEB (turma de 2002), expressa sua profunda satisfação em “corroborar um espaço de vivência com essas crianças” na Zoogicana. Sua fala carrega a emoção de quem vivenciou as “inúmeras dificuldades” do passado e que agora vê, no “olhar que reflete o despertar da biologia, o despertar do cuidado do meio ambiente” nas crianças de 5, 6, 7 e 8 anos, a concretização de um sonho. A socialização com escolas públicas, para ele, “chama mais atenção, pela valorização pelo reconhecimento da educação pública”, ressaltando a importância da universidade pública de portas abertas às escolas públicas.

A fala do professor Giusepe é um hino à resiliência e resistência dos professores e diretores da educação pública de Alagoinhas. Ele enfatiza a necessidade de “acreditar no fortalecimento das parcerias” e reconhece o trabalho diário desses profissionais como um “ato de resistência”. A presença da UNEB na praça dos esportes de Alagoinhas, para ele, é um símbolo dessa troca de saberes e um convite para que as escolas se engajem cada vez mais. “Amanhã pode ser a nossa escola participando, é essa troca que deve existir”, afirma, defendendo a continuidade e a ampliação dessas iniciativas.
O professor Giusepe conclui sua fala com uma citação inspiradora de Paulo Freire: “se nós estamos hoje aqui, é porque é um ato de amor, é um ato de resistência”. Essa mensagem, que ele carrega como lema de vida, sintetiza o espírito da Zoogicana e da própria educação pública. O evento é um testemunho do compromisso com o direito à educação para todos, especialmente para as crianças que, no futuro, “poderão estar sim tendo o direito à educação pública da nossa UNEB, uma grande instituição da nossa cidade”. É um chamado à esperança e à crença no poder transformador da educação pública e das parcerias que a fortalecem.
A Gincana Interdisciplinar e o Triunfo da Aprendizagem
A III Zoogicana culminou em uma gincana interdisciplinar que se tornou o ponto alto do evento, transformando o aprendizado em uma competição saudável e engajadora. Escolas como o Colégio Estadual Brasilino Viegas, o Colégio da Polícia Militar Professor Carlos Rosas (CPM) de Alagoinhas e o Colégio Estadual José Vicente Leal de Araçás marcaram presença, construindo uma rica “troca de saberes” e participando ativamente do mecanismo interdisciplinar elaborado pela UNEB. A gincana, com perguntas relacionadas ao tema central da Zoogicana, foi uma verdadeira “olimpíada do mundo animal e sua diversidade”.
As perguntas da gincana foram “acirradas”, abordando tópicos como animais em extinção, a importância da preservação, os motivos da extinção de algumas espécies e a identificação de animais sorteados e seu status de conservação. Essa abordagem lúdica e competitiva garantiu que os estudantes absorvessem o conteúdo de forma divertida e memorável, reforçando a mensagem de conscientização ambiental. A gincana não foi apenas um teste de conhecimento, mas uma forma de consolidar o aprendizado de maneira interativa e colaborativa, estimulando o raciocínio rápido e a capacidade de trabalho em equipe.
O grande campeão desta maratona sobre a biodiversidade foi o Colégio da Polícia Militar Professora Carlos Rosas, representado por 12 estudantes do 7º F. Josafá Liborio, um dos 12 estudantes promissores do time vencedor, expressou sua satisfação em vivenciar essa “troca do saber e saber compartilhando as experiências”. Para ele, a experiência foi “muito bom, ótimo para o conhecimento e experiência tanto para os 12 participantes que competiram, quanto para a turma que estava na torcida”. O orgulho de fazer parte do CPM e de participar de um evento da UNEB, uma “faculdade que já é querida no meu coração” por influência de seu pai, demonstra o impacto duradouro do evento na vida dos jovens, incentivando o desenvolvimento do conhecimento e o cuidado com a natureza e sua biodiversidade.

A III Zoogicana da UNEB Campus II Alagoinhas, “Últimos da Espécie: O Eco da Despedida”, transcendeu a concepção de um mero evento acadêmico, consolidando-se como um vibrante elo entre a universidade pública e a comunidade. Ao integrar a curricularização da extensão com a ciência lúdica e o engajamento social, a iniciativa não apenas despertou a consciência ambiental em centenas de crianças e jovens, mas também reafirmou o papel transformador da educação pública. A troca de saberes, a valorização da resiliência dos professores e o entusiasmo dos estudantes, culminando em uma gincana memorável, desenham um cenário de esperança e fortalecimento das parcerias, projetando a UNEB como um farol de conhecimento e cidadania para Alagoinhas e região.