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Hélio Liborio

Pitaco

O Pragmatismo Econômico Contrapõe Alinhamentos Ideológicos

Português

A notícia do desgaste de Bolsonaro e seus aliados diante do “tarifaço” de Trump é um lembrete contundente de que, no tabuleiro geopolítico e comercial, o pragmatismo econômico frequentemente se impõe aos alinhamentos ideológicos mais fervorosos. A aposta irrestrita em uma “amizade” pessoal e uma afinidade ideológica com um líder estrangeiro, em detrimento de uma diplomacia multifacetada e baseada em interesses de Estado, revela-se agora uma estratégia de alto risco e de custo elevado para a economia nacional. O adágio popular de que “amigos, amigos, negócios à parte” ressoa com brutal clareza.
A irritação do agronegócio, setor que mais explicitamente abraçou a agenda bolsonarista, é um indicativo de que a fidelidade ideológica tem um limite quando o bolso é diretamente afetado. Não há ideologia que sustente prejuízo. As críticas veladas, e agora explícitas em círculos privados, a Bolsonaro e, em particular, a Eduardo Bolsonaro, não são meros desabafos, mas um termômetro da desilusão. A promessa de um “melhor amigo” no poder global não se concretizou em proteção contra o protecionismo, mas, ao contrário, gerou vulnerabilidade e a percepção de que a influência prometida era, no fim das contas, quimera.
Esse episódio deveria servir como uma lição amarga sobre a natureza das relações internacionais. Países buscam defender seus interesses, e a política comercial é uma extensão dessa busca. Conectar o destino econômico de uma nação à retórica e às oscilações de um líder estrangeiro, por mais simpático que pareça, é um erro estratégico que expõe a fragilidade da soberania econômica. O desgaste de Bolsonaro e seus aliados é um sintoma inevitável de que a realidade dos mercados e a necessidade de proteger a produção e o emprego nacional sempre se imporão, mais cedo ou mais tarde, sobre qualquer alinhamento que negligencie o pragmatismo.
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O Futuro do Bolsonarismo Diante de Crises Externas e o Desafio da Recomposição
O desgaste de Jair Bolsonaro e de seu grupo político diante das tarifas de Trump não é um evento isolado, mas parte de um desafio maior: a capacidade do bolsonarismo de se recompor e manter a coesão em um cenário de crises externas e internas. A dependência de uma figura central e de um discurso simplificador torna o movimento vulnerável a revéses que atingem diretamente a base econômica de seus apoiadores. A forma como essa crise será gerenciada, ou não, por Bolsonaro e seus aliados determinará a extensão do dano político.
A tendência é que o grupo tente minimizar os impactos, talvez buscando outras narrativas ou culpados externos para desviar o foco da responsabilidade pela fragilidade da relação com os EUA. Contudo, a clareza do “tarifaço” e o seu impacto direto em setores como o agronegócio tornam essa estratégia de desvio mais difícil de ser sustentada. A realidade econômica tem um peso que a retórica, por mais poderosa que seja, não consegue anular indefinidamente. A insistência de Trump em suas medidas, mesmo com o novo governo brasileiro, reflete uma agenda que transcende simpatias pessoais.
O futuro do bolsonarismo passará pela sua capacidade de se adaptar e de oferecer respostas concretas aos problemas que afetam diretamente sua base. Se o desgaste no agronegócio se aprofundar, o grupo pode enfrentar dificuldades significativas para manter sua influência e mobilização. A crise com as tarifas de Trump é, portanto, um teste de resiliência e de pragmatismo para um movimento político que se habituou a operar em um ambiente de confronto e polarização, mas que agora é confrontado com as duras leis da economia e da geopolítica. A recomposição exigirá mais do que slogans; demandará soluções efetivas para os problemas que o atingem.

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