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Hélio Liborio

Câmara de Alagoinhas altera horário das sessões em nome da participação popular

Novo horário das sessões da Câmara, agora das 9h às 13h, busca aproximar a população do Legislativo municipal e facilitar a presença física dos cidadãos.

A Câmara Municipal de Alagoinhas anunciou, em sessão extraordinária realizada em 18 de junho, a mudança no horário das sessões ordinárias. A partir do retorno do recesso, os encontros legislativos ocorrerão nas terças e quintas-feiras, das 9h às 13h. A medida, segundo a presidência da Casa, busca ampliar a participação popular nas atividades legislativas e acompanhar o funcionamento dos demais órgãos públicos da cidade, que operam predominantemente no turno matutino.


A proposta: mudança que nasce do diagnóstico da realidade local

A mudança do horário das sessões não surgiu por acaso. Segundo o presidente da Casa, vereador José Cleto (Cleto da Banana), a medida é fruto de uma observação recorrente: a baixa presença de público nas sessões realizadas no turno da tarde. A análise qualitativa do cotidiano legislativo revelou que o período matutino concentra o maior fluxo de cidadãos no prédio da Câmara, ao passo que a tarde se esvazia.

Nesse sentido, a proposta nasce com caráter estratégico e responsivo. Os vereadores, de maneira unânime, aprovaram a alteração após debates internos e escuta popular informal. Cleto destacou que, ao alinhar o funcionamento da Câmara ao expediente de grande parte dos órgãos públicos de Alagoinhas — que operam das 7h às 13h —, o Legislativo reforça sua vocação de acessibilidade e diálogo com o povo.

Mais do que uma mudança pontual, a medida aponta para uma tentativa institucional de reaproximação entre representantes e representados, algo cada vez mais necessário diante da crescente descrença da população com a política formal.


Participação popular: entre o ideal e o real

O princípio da participação popular está consagrado no artigo 1º da Constituição Federal: “todo o poder emana do povo”. No entanto, na prática, o distanciamento entre cidadãos e a vida parlamentar tem sido uma constante em diversas casas legislativas, inclusive nos municípios. Em Alagoinhas, como em boa parte do Brasil, a presença do público nas sessões é majoritariamente reduzida, salvo em situações de forte comoção ou de interesses diretos.

A nova medida busca romper com essa lógica, incentivando a presença física dos cidadãos nos debates e votações que impactam diretamente suas vidas. Embora as sessões sejam transmitidas ao vivo pelas redes sociais, a Câmara reconhece que a presença física oferece um ambiente mais efetivo para o diálogo, mobilização e vigilância cidadã.

No entanto, o desafio vai além do horário: passa por educação política, formação cidadã e pelo fortalecimento da cultura democrática nos territórios. A mudança pode ser uma semente, mas o solo precisa estar fértil — e isso exige mais do que um novo relógio legislativo.


Transparência legislativa e o papel simbólico da presença pública

A transparência é um dos pilares do Estado Democrático de Direito. No entanto, há uma diferença significativa entre “visibilidade institucional” e “participação cidadã”. A transmissão ao vivo das sessões não substitui a potência simbólica e política da presença do povo no plenário.

Cleto da Banana afirmou que “queremos que a população esteja informada, mas também presente”, destacando a intenção de fortalecer esse vínculo entre o povo e os legisladores. A proposta, portanto, não busca apenas ajustar uma agenda, mas criar novas pontes entre o cidadão comum e o poder público local.

Se a medida surtirá efeito ou não, dependerá também de campanhas de incentivo, da atuação dos gabinetes e da valorização da escuta ativa nos corredores do Legislativo. Presença é um gesto político — e para que haja presença, é preciso que o povo se sinta pertencente.


A articulação institucional e o consenso entre os vereadores

Um dos pontos que chama atenção é o consenso que cercou a proposta. A aprovação unânime do novo horário indica que, pelo menos nesse caso, houve diálogo interno e maturidade política dos parlamentares. Em um momento em que polarizações marcam as disputas até nos espaços mais locais, o consenso revela a força de uma pauta que atravessa ideologias: a reconexão entre o Parlamento e a sociedade civil.

A Câmara de Alagoinhas, com essa iniciativa, dá um passo simbólico para além da legislação ordinária. O gesto político da mudança horária pode ser um indicativo de que a Casa busca reposicionar-se no imaginário coletivo da cidade: mais acessível, mais presente, mais sensível às dinâmicas urbanas.

No entanto, é preciso acompanhar a execução da proposta. Nem todo consenso é garantia de eficácia. É necessário avaliar se, de fato, o novo horário gerará mais participação ou apenas mudará o turno das ausências.


Comunicação pública e pedagogia democrática

Para que a mudança produza frutos reais, ela precisa ser acompanhada de uma forte comunicação institucional. A população precisa ser informada — e mais do que isso, sensibilizada — sobre a importância de estar presente, sobre os temas que estão sendo discutidos e sobre como sua voz pode (e deve) ressoar nas decisões da Casa.

Isso passa pela atuação da Assessoria de Comunicação da Câmara, mas também por parcerias com escolas, associações de bairro, rádios comunitárias e movimentos sociais. A mudança de horário pode ser o início de uma verdadeira pedagogia da democracia, que ensine, convide e envolva os cidadãos.

Participar não é apenas direito — é responsabilidade. E uma cidade como Alagoinhas, com sua complexidade social e força cultural, tem muito a ganhar com uma Câmara que funcione em harmonia com a sua gente.


Comparações e experiências similares em outras cidades

Em muitos municípios brasileiros, mudanças semelhantes já foram adotadas. Algumas obtiveram bons resultados, outras revelaram que o problema da participação popular é estrutural e não se resolve apenas com a mudança de horários.

A análise comparada pode oferecer à Câmara de Alagoinhas elementos valiosos. Estudar experiências de outras cidades, ouvir pesquisadores da área de políticas públicas e envolver universidades locais pode enriquecer o processo e garantir que a medida vá além do formalismo.

Em última instância, a legitimidade de um Legislativo se constrói na escuta e na coragem de inovar — sem perder a capacidade de se autoavaliar. O novo horário pode ser só o primeiro movimento de uma dança democrática mais ampla e coletiva.


A decisão da Câmara Municipal de Alagoinhas de alterar o horário das sessões para o período matutino deve ser compreendida como um gesto de responsabilidade institucional e tentativa de fortalecimento da cultura democrática. Se a mudança será ou não eficaz, dependerá do engajamento dos vereadores, da disposição popular e da transparência contínua do processo. A política se faz no tempo — e o novo horário pode ser o momento em que a cidadania encontre sua hora certa.