Tem político que quando vai a Brasília acha que está no camarim de uma novela — tudo é feito com figurino e pose. Em vez de levar projetos consistentes e cobranças firmes, leva um fotógrafo e um celular de última geração. O resultado? Selfies. Muitas selfies. Com deputados, presidentes de órgãos públicos e, claro, com a bandeira da cidade tremulando no fundo. Faltam apenas os filtros do Instagram com frases como “rumo ao progresso” ou “mais uma conquista para o povo”.
Desta vez, o prefeito de Alagoinhas deu um pulinho na capital federal para cobrar a Codevasf pela retomada de obras paralisadas. Cobraram, conversaram, tomaram café, tiraram foto, postaram — e voltaram. Parece roteiro de reality show: muito drama, pouco resultado. E o povo de Alagoinhas? Continua desviando de buraco, esperando pavimentação e ouvindo a velha cantilena das “obras que vão começar em breve”. Tudo muito parecido com a promessa da ponte Salvador-Itaparica, aquela que todo governador promete, mas ninguém entrega nem um pedágio.
É curioso como a ida a Brasília virou a desculpa perfeita para não governar aqui. Gastam-se passagens, hospedagens, diárias e recursos públicos para “cobranças” que caberiam muito bem num telefonema institucional. Mas a selfie em Brasília tem seu valor eleitoral: faz parecer que algo está sendo feito. O curioso é que ninguém posta foto do asfalto quebrado, da rua que ficou pela metade, ou da placa da obra que já caiu de velha. Brasília virou o teatro da ilusão. E em Alagoinhas, o povo, esse sim, continua pisando no chão da realidade.
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