Fraude no INSS: Servidores Ameaçados por Combater Descontos Ilegais

Servidores do INSS enfrentam ameaças após bloquearem descontos não autorizados em benefícios de aposentados, revelando um esquema de fraudes que desviou bilhões de reais.

Em 2025, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tornou-se o epicentro de um escândalo de proporções bilionárias. Servidores da autarquia, ao identificarem e bloquearem descontos indevidos aplicados aos benefícios de aposentados e pensionistas, passaram a ser alvo de ameaças e intimidações. A situação expõe não apenas a fragilidade dos mecanismos de controle do INSS, mas também a audácia de organizações que, sob o manto da legalidade, exploraram vulnerabilidades do sistema previdenciário brasileiro.


O Esquema de Fraudes e Seus Protagonistas

O esquema, desvendado pela “Operação Sem Desconto” da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), revelou que associações e sindicatos firmaram Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS para realizar descontos diretamente nos benefícios dos segurados. Embora legalmente permitidos desde 1991, esses descontos deveriam ser autorizados pelos beneficiários, o que não ocorreu em muitos casos .

Entre 2016 e 2024, estima-se que mais de 9 milhões de aposentados e pensionistas foram lesados, com prejuízos que ultrapassam 8 bilhões de reais. Entidades como a Contag, Caap e Conafer estão entre as principais envolvidas, sendo que a Contag teria recebido cerca de 2,9 bilhões de reais no período .

A operação resultou no afastamento do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e na prisão de envolvidos no esquema. Além disso, foram apreendidos bens de alto valor, incluindo joias e veículos de luxo, evidenciando o enriquecimento ilícito dos participantes.


Ameaças aos Servidores e o Clima de Intimidação

Servidores que atuaram na identificação e bloqueio dos descontos ilegais relataram ter recebido ameaças, tanto diretas quanto veladas. Em alguns casos, houve tentativas de coação para que os funcionários não prosseguissem com as investigações internas.

O clima de intimidação gerou insegurança entre os trabalhadores do INSS, que passaram a temer represálias por cumprirem suas funções. A situação levou a autarquia a reforçar medidas de proteção aos servidores e a colaborar com as autoridades na apuração das ameaças.

A Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social (Anasps) manifestou preocupação com o ocorrido e cobrou providências para garantir a segurança e a integridade dos profissionais envolvidos nas investigações.


Repercussões Políticas e Institucionais

O escândalo provocou uma crise institucional no INSS e no Ministério da Previdência. O então ministro Carlos Lupi pediu demissão em maio de 2025, sendo substituído por Wolney Queiroz. A troca de comando visou restaurar a confiança na gestão da Previdência Social .

No Congresso Nacional, parlamentares de diversas legendas passaram a defender a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as fraudes. A iniciativa ganhou apoio de membros da base governista e da oposição, refletindo a gravidade do caso.

A Controladoria-Geral da União determinou a suspensão de todos os descontos realizados por associações nos benefícios dos segurados, além de reter os valores que seriam repassados às entidades em maio de 2025.


Medidas de Ressarcimento e Prevenção

Diante da dimensão das fraudes, o INSS iniciou um plano de ressarcimento aos beneficiários prejudicados. Até 15 de maio de 2025, mais de um milhão de aposentados haviam solicitado o reembolso dos valores descontados indevidamente, por meio do aplicativo “Meu INSS” .

A autarquia também anunciou a revisão dos Acordos de Cooperação Técnica firmados com entidades representativas, com o objetivo de estabelecer critérios mais rigorosos para a autorização de descontos em folha. Além disso, foram implementadas medidas de transparência e controle interno, como auditorias periódicas e a criação de canais de denúncia para identificar possíveis irregularidades.