
Em Alagoinhas, a saúde pública virou novela. Só que sem final feliz, sem trilha sonora e com muito drama real. Com episódios diários de dor, espera e abandono, a população se pergunta: será que o próximo capítulo vai ter médico ou é só reprise da mesma tragédia?
Sabe aquelas filas que a gente via em documentário sobre o SUS no fim dos anos 1990? Pois é. Estão de volta, firmes e fortes — só que agora com câmera de celular filmando a vergonha em HD. A diferença é que, naquela época, se dizia que o problema era o país. Hoje, o país mudou, mas Alagoinhas parece ter apertado o botão de rebobinar.
A UPA do Barreiro virou uma espécie de miragem urbana: a gente vê, mas não usa. Já tem estrutura, já foi inaugurada, mas continua com o status de “em breve”. O problema é que a dor não sabe esperar — e muito menos o cidadão que está sangrando, fraturado ou à beira do parto. O povo até tenta sobreviver, mas a saúde pública insiste em atrapalhar.
Enquanto isso, o governador e o prefeito trocam elogios em palanques, eventos e redes sociais. É tanto afeto institucional que a gente até pensa: “será que eles se lembram de Alagoinhas?” Porque se lembram, esqueceram de combinar com a realidade. A parceria é forte, mas o povo está fraco. Fraco de assistência, fraco de esperança, fraco de dignidade.
Tem até médico sendo ameaçado por cobrar estrutura — veja só que absurdo. Em vez de receber insumos, recebe intimidações. Em vez de ter plantão reforçado, enfrenta plantão forçado. A saúde virou um castigo e o profissional de saúde, um sobrevivente dentro do caos.
Não é exagero, é verdade. Está tudo documentado. O paciente com fratura exposta ficou mais de oito horas aguardando atendimento. A parturiente morreu por falta de medicamento. Mas a gestão jura que está tudo dentro da normalidade. Talvez seja isso mesmo: em Alagoinhas, o anormal virou rotina.
E tem gente que ainda diz: “vai melhorar, confia no processo”. Só esqueceram de avisar que o processo está parado, sem senha e sem previsão de retorno. É quase uma comédia de erros, se não fosse uma tragédia social.
E o povo? Bom, o povo continua esperando. Esperando a consulta, o exame, a ambulância, o atendimento… Esperando um governo que apareça, uma UPA que funcione e uma política que priorize quem precisa. Porque a saúde é um direito, não um sorteio.
Esse Pitaco é um recado direto: se você não viu a fila da vergonha, é porque ainda não precisou dela. Mas cuidado — em Alagoinhas, todo mundo está a uma dor de cabeça de virar estatística.
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