Hélio Liborio
Hélio Liborio

Pitaco

Quando o silêncio vale mais que seis bilhões

Português

Governo evita tratar do ressarcimento a aposentados lesados por fraude no INSS, e a omissão pública agrava o descrédito no serviço público.

A ausência de respostas concretas sobre o ressarcimento aos aposentados prejudicados pela bilionária fraude no INSS diz mais do que qualquer pronunciamento oficial. Em mais de três horas de reunião no Palácio da Alvorada, o tema principal — a devolução dos valores desviados de quem depende da Previdência — foi solenemente ignorado. E essa omissão, em se tratando de recursos que pertencem a idosos e pensionistas, não é apenas uma falha administrativa: é um ultraje ético.

As desculpas protocolares já não convencem nem os mais pacientes. Milhões de brasileiros, muitos deles no fim da vida, sofreram descontos não autorizados em seus benefícios por anos. E mesmo após a revelação da fraude, o que se tem oferecido até agora são palavras vazias e um calendário de promessas que nunca chega. Fala-se muito em “responsabilização”, mas pouco se faz quanto à reparação.

Neste cenário, o governo parece mais empenhado em proteger sua imagem do que em proteger o cidadão. E a pergunta que ecoa — dentro e fora das instituições — é: por que tanto silêncio sobre o ressarcimento? Onde está o plano de devolução dos bilhões retirados injustamente de quem mal tem o suficiente para viver?

O INSS não é um banco de investimentos; é a tábua de salvação para milhões. Quando há fraude, o mínimo que se espera é uma resposta à altura. Mas o que vemos é um festival de reuniões, trocas de cadeiras e discursos cuidadosamente elaborados que, no fundo, nada dizem. O prejuízo é real, mensurável, e o dano humano é ainda maior: trata-se da confiança perdida no Estado.

E é aí que reside o drama maior. Quando o cidadão não acredita mais que o Estado o protege — mas sim que o abandona em silêncio —, não há política pública que resista. Não se trata de viés ideológico, mas de respeito ao básico: o direito ao que é seu. O aposentado não quer favor; quer justiça.

Em nome de quem foi lesado, é preciso parar de fingir que o assunto pode ser empurrado para a próxima reunião. O tempo de reação já passou. O Brasil real — aquele que madruga nas filas do INSS, que espera meses por perícias, que conta cada centavo no fim do mês — não pode ser esquecido em nome do jogo palaciano de evitar desgastes.

Falar em valores iguais para premiações esportivas entre homens e mulheres — como no exemplo citado da Copa Inovação Feminina em Alagoinhas — soa como progresso. Mas no campo dos direitos básicos, como aposentadoria, o mesmo governo fecha os olhos diante do roubo institucionalizado que vitimou milhões. A igualdade começa onde o básico é garantido: o respeito ao benefício de quem trabalhou a vida toda.

O Pitaco de hoje é direto: o governo precisa sair da retórica e agir. O ressarcimento aos aposentados não é uma pauta de conveniência — é uma obrigação moral e legal. O Estado que não cuida dos seus mais velhos está fadado à falência de sua própria razão de existir. E quando se evita o tema por conveniência política, o silêncio passa a ter um preço. E neste caso, o silêncio custa mais de seis bilhões de reais.

E pior: custa a confiança do povo.

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