O Canadá nas mãos de um banqueiro político
O Canadá decidiu. Nas urnas, o povo escolheu Mark Carney como novo primeiro-ministro, segundo as projeções das eleições realizadas neste final de abril de 2025. Com vasta experiência em economia e ex-chefe do Banco da Inglaterra e do Canadá, Carney lidera agora não só o Partido Liberal, mas também uma nova fase política que combina pragmatismo econômico com promessas sociais moderadas.
A vitória de Carney amplia o controle dos liberais em um cenário internacional de incertezas e polarizações. O sucesso nas urnas é atribuído à sua imagem de estabilidade e conhecimento técnico, contrastando com os discursos populistas que rondam outras democracias ocidentais.
Com isso, o Canadá mantém-se como uma das poucas democracias ocidentais onde a centro-esquerda ainda governa com força significativa, e agora sob o comando de um primeiro-ministro que trocou os ternos de banqueiro pelos paletós da política com notável destreza.
1. Quem é Mark Carney?
Mark Carney não é um nome novo para quem acompanha economia global. Canadense, com formação em Harvard e Oxford, Carney construiu carreira sólida no sistema financeiro, tendo sido presidente do Banco do Canadá e, depois, do Banco da Inglaterra — algo inédito para um estrangeiro.
Na vida pública, Carney sempre foi discreto, técnico, e avesso a discursos apaixonados. Sua entrada definitiva na política partidária veio em meio a um cenário de cansaço com lideranças convencionais e ao desejo por “gestores de verdade”.
Sua candidatura trouxe um ar de seriedade que caiu como luva num país cansado de escândalos, promessas vazias e extremismos. Mais que carisma, Carney ofereceu currículo. E, neste ciclo eleitoral, o eleitor canadense quis menos slogans e mais planilhas.
2. Uma campanha silenciosa, porém eficaz
A campanha de Mark Carney não foi marcada por comícios barulhentos nem por promessas mirabolantes. Sua estratégia foi, como sua trajetória, pautada pela sobriedade. Discurso equilibrado, foco em resultados e confiança nas instituições foram seus pilares.
O contraste com adversários mais midiáticos e ruidosos ajudou a moldar sua imagem como o “adulto na sala”. Isso atraiu principalmente o eleitorado urbano, de classe média e universitária, que rejeita tanto o conservadorismo tradicional quanto a esquerda ideológica.
Com apoio firme dentro do Partido Liberal e respeitado até por setores da oposição, Carney conseguiu unir diferentes alas sob uma proposta de centro pragmático, o que consolidou sua vitória como um projeto coletivo mais do que personalista.
3. Desafios do novo governo
Apesar da vitória, os desafios que Mark Carney enfrentará não são poucos. O Canadá, embora estável, enfrenta pressões inflacionárias, crises no sistema de saúde, disputas territoriais indígenas e demandas ambientais cada vez mais urgentes.
Seu perfil técnico será testado na prática. O Parlamento, ainda que favorável, não será complacente com lentidão. Os sindicatos esperam ações sociais, o setor empresarial cobra desregulamentações, e os jovens querem respostas sobre clima, moradia e representatividade.
Carney terá que mostrar que sabe dialogar com a diversidade canadense sem perder a mão firme que o fez triunfar nos bastidores da economia. Em outras palavras: terá que ser estadista e gerente ao mesmo tempo.
4. A repercussão internacional
A eleição de Carney foi bem recebida por aliados ocidentais. Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia sinalizaram otimismo com o novo premiê. Afinal, ele já foi interlocutor de todos — em mesas econômicas do G7 e fóruns internacionais.
Na América Latina, o resultado foi visto com curiosidade. Países em crise política ou com governos populistas olham para o Canadá como exemplo de moderação, estabilidade e boa governança. Carney vira um contraponto à maré de líderes carismáticos, porém erráticos.
Com prestígio global e trânsito livre entre economistas e diplomatas, o novo primeiro-ministro tem tudo para posicionar o Canadá como liderança moral e técnica em temas como clima, tecnologia e comércio internacional.
5. O que muda na vida do canadense comum
Carney promete foco em habitação, saúde pública e desenvolvimento verde. Seu plano é investir em infraestrutura sustentável, ampliar o acesso à saúde e frear o aumento do custo de vida com políticas fiscais responsáveis.
Para o canadense médio, isso se traduz em promessas de estabilidade, mas sem grandes revoluções. Carney não é um entusiasta da ruptura — sua bandeira é o ajuste, o equilíbrio e a confiança no bom funcionamento das instituições.
A grande dúvida é se sua abordagem será suficiente para conter o avanço de movimentos mais radicais, principalmente entre jovens insatisfeitos com a lentidão das mudanças sociais e climáticas. Ele terá que governar para os que votaram nele — e para os que o vigiam de perto.
Um premiê de planilha na era do TikTok
Mark Carney chega ao poder em um mundo de algoritmos, fake news e impulsos imediatistas, trazendo consigo planilhas, gráficos e pragmatismo. Sua vitória diz muito sobre o que parte do eleitorado deseja: menos show, mais gestão. Se conseguirá traduzir isso em políticas públicas efetivas e duradouras, o tempo — e os canadenses — dirão. Por ora, o mundo observa: um banqueiro virou primeiro-ministro. E, ao que tudo indica, a conta, por enquanto, fecha.