
Na cidade onde cada sanfona afinada pode virar discurso de palanque, o anúncio do São João 2025 soa mais como jingle de campanha do que como convite à cultura popular. O prefeito, atento aos acordes do marketing, sacou o chapéu de couro e os stories de piseiro — e lançou Adelmário Coelho e Vitor Fernandes como as notas altas da festa. Um toque de raiz, outro de trend, e pronto: está formado o baião eleitoral.
Adelmário, o eterno cavaleiro do forró das antigas, entra como selo de autenticidade: uma espécie de “sanfona carimbada” para agradar os ouvidos nostálgicos — inclusive os de quem ainda votam com o coração, desde que embalado por um xote romântico. Já Vitor Fernandes representa a juventude conectada que, entre um piseiro e outro, grava stories com a mesma velocidade com que troca de ídolo.
No fundo, a escolha é esperta: mistura o que emociona com o que viraliza. A prefeitura toca os dois lados da moeda — e espera que, em ano pré-eleitoral, o povo dance feliz e depois repita os passos nas urnas. E como é um só amor, Alagoinhas e Governo do Estado situação, nesse compasso, o governador que nunca desceu do palanque, segue liderando o arrasta-pé com selfie em punho e discursos de efeito, sempre ao lado de quem já escolheu seu par político.
Sua gestão — ou o que dela se vê — tem sido um forró de improvisos: regulação que mata mais do que salva, segurança pública terceirizada aos “meninos travessos” que desafinam a paz social, emprego que virou letra perdida de música antiga e nenhuma obra estruturante capaz de dar o tom de desenvolvimento. Enquanto isso, o povo dança — mesmo sem palco firme.
No palco da propaganda, Jerônimo virou estrela pop, mas desafina quando o assunto é governar. A Bahia precisa de um maestro, não de um animador de festas. É como se, no lugar de partitura, a gestão seguisse roteiros de likes e abraços no interior, numa mistura de vaquejada com vaidade institucional.
O que se vê é um São João com mais pose que propósito — ou melhor, com mais palanque que planejamento. Adelmário vem para evocar a Bahia que canta, enquanto Vitor traz a Bahia que dança. Já o governador… bem, esse segue tirando selfie com prefeitos e empurrando com a barriga um Estado que pede gestão, não performance. E o povo? Ainda na esperança de um forró onde se possa, enfim, pisar firme — sem tropeçar no improviso político.
No fundo, a escolha é esperta: mistura o que emociona com o que viraliza. A prefeitura toca os dois lados da moeda — e espera que, em ano pré-eleitoral, o povo dance feliz e depois repita os passos nas urnas. E se o São João for mesmo de primeira, quem sabe o eleitor não entrega o bis?
Mas cuidado com o volume. Porque festa demais pode abafar a cobrança. Enquanto o povo dança, as ruas seguem com buracos, a saúde precisa de remendos e a educação… bem, essa continua ensaiando. Que a música não sirva apenas para distrair. Porque, no final, quem dança mal é o povo que só aplaude — mas não é ouvido.
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