A poucos meses do São João 2025, festa considerada vital para a economia popular de Alagoinhas, a categoria dos ambulantes tradicionais do município se mobiliza para denunciar a falta de diálogo e de informações claras por parte da Secretaria Municipal de Cultura (SECET). Em vídeos que circulam nas redes sociais, liderados pelo representante conhecido como “Se Liga no Penga”, os trabalhadores informais expõem a apreensão e a indignação diante da omissão do poder público, que havia prometido inclusão e isenção de taxas, mas até agora não cumpriu o prometido.
A Promessa do Prefeito e a Realidade Encontrada
Durante aparição pública em evento anterior, o prefeito de Alagoinhas, conhecido pelo slogan “Chama que o prefeito vem”, garantiu que todos os ambulantes teriam espaço garantido no circuito do São João, sem cobrança de taxas. Na ocasião, utilizando a imagem de uma ambulante como símbolo da “gestão popular”, o prefeito reafirmou o compromisso de dar suporte à economia informal.
Entretanto, a realidade apresentada nas ruas é bem diferente. Ambulantes tradicionais alegam que não foram contemplados no planejamento do evento, nem tiveram acesso a informações mínimas sobre como proceder para garantir seu espaço de trabalho. A sensação de abandono cresce à medida que a festa se aproxima, enquanto apenas pequenos grupos selecionados parecem ter acesso privilegiado às informações e vagas.
O sentimento predominante entre os trabalhadores é de revolta e frustração. Muitos afirmam que investiram em mercadorias e estrutura para as festas, acreditando na palavra do gestor municipal. Sem resposta oficial, a categoria se vê amparada apenas pela própria mobilização e pela pressão social nas redes.
Mobilização dos Ambulantes e a Falta de Diálogo
O movimento ganhou força através das redes sociais e da imprensa local. O representante “Se Liga no Penga” procurou a imprensa local, amplificando a voz dos ambulantes em busca de justiça e respeito. Em vídeos e entrevistas, os trabalhadores expuseram a ausência de critérios públicos e a falta de transparência na seleção dos participantes.
A grande reivindicação do grupo é por clareza: querem saber como se dará a distribuição de espaços, quais as condições para trabalhar e se as promessas de gratuidade e inclusão serão cumpridas. O silêncio da Secretaria de Cultura agrava a sensação de abandono institucional e deixa margem para desconfianças sobre favorecimentos e irregularidades.
A população de Alagoinhas, acostumada a ver os ambulantes como parte viva da cultura junina, começa a manifestar solidariedade à causa, percebendo que a exclusão desses trabalhadores representa não apenas um problema econômico, mas uma descaracterização das tradições populares.
A Inoperância da Secretaria de Cultura
Sob a gestão do secretário João Henrique Paolilo, a Secretaria de Cultura (SECET) tem sido criticada pela condução das políticas públicas voltadas aos eventos culturais. Até o momento, a pasta não emitiu nenhuma nota oficial explicando as diretrizes para o São João 2025, gerando apreensão e incertezas não apenas entre os ambulantes, mas também em artistas e prestadores de serviço.
A ausência de um edital público, lista de credenciamento ou reunião aberta para esclarecimentos alimenta denúncias de favorecimentos e decisões unilaterais. A falta de gestão transparente mina a credibilidade da organização da festa, que sempre foi um espaço de inclusão e oportunidade para as camadas mais populares.
Especialistas em gestão pública alertam que a falta de planejamento e de diálogo social compromete a própria execução do evento, podendo gerar prejuízos à arrecadação e manchar a imagem de uma das festas mais tradicionais do município.
Impactos Econômicos e Sociais da Exclusão
A exclusão dos ambulantes tradicionais do São João impacta diretamente a economia local. Muitos desses trabalhadores dependem dos rendimentos obtidos nos festejos juninos para garantir o sustento de suas famílias ao longo do ano. Trata-se, portanto, de uma crise que ultrapassa o evento em si e atinge o coração da economia popular.
Além da questão econômica, a exclusão fere simbolicamente a tradição dos festejos de rua de Alagoinhas. Os ambulantes fazem parte do colorido e da vibração cultural que caracteriza o São João da cidade, e sua ausência descaracterizaria a festa, tornando-a mais elitizada e distante do povo.
Se não for revertido, o cenário atual poderá provocar também um aumento da informalidade desordenada e de conflitos no espaço público durante os festejos, já que muitos trabalhadores informais podem optar por montar seus negócios sem autorização oficial, gerando tensões e problemas de segurança.
A Imagem Pública do Prefeito em Xeque
O prefeito Gustavo Carmo, conhecido pelo bordão “Chama que o prefeito vem”, vê sua imagem pública se desgastar frente ao desenrolar dos fatos. Sua promessa pública de acolhimento e isenção de taxas para os ambulantes, gravada e amplamente divulgada, contrasta com a atual falta de cumprimento e de respostas oficiais.
A utilização de uma ambulante como símbolo de propaganda política, agora revelada como mais uma peça publicitária sem amparo real, acende o debate sobre o uso eleitoreiro das causas populares em Alagoinhas. A prática, embora antiga, continua sendo um dos grandes vícios da política municipal.
Caso não haja uma mudança de postura urgente, o episódio dos ambulantes poderá ser lembrado como um dos maiores desgastes da gestão atual, especialmente num cenário pré-eleitoral onde a credibilidade e a capacidade de cumprir promessas são postas à prova.