Hélio Liborio
Hélio Liborio

Pitaco

Quando a Incisão Revela as Fragilidades do Poder

Português

A fragilidade do corpo humano, imune a discursos inflamados e batalhas políticas, volta a se manifestar de forma inegável. O ex-presidente Jair Bolsonaro, há tanto afigura-se como símbolo de resistência e de embates políticos, agora se vê submetido à crueza da anatomia: uma cirurgia de laparotomia exploradora para desobstruir o intestino e reconstruir a parede abdominal. Este procedimento – realizado no Hospital DF Star, em Brasília – transcende a mera intervenção médica e nos impõe uma reflexão: mesmo os paladinos do poder, revestidos de retóricas e de discursos altissonantes, não escapam ao desgaste inexorável do tempo e da matéria.
Segundo os boletins médicos, após nova reavaliação e realização de exames laboratoriais e de imagem, evidenciou-se a persistência de um quadro de subobstrução intestinal, o qual obrigou a equipe a optar por uma intervenção cirúrgica para liberar as aderências intestinais e reconstruir a parede abdominal. Em meio a declarações que exaltam a ideia de que “passamos a vida prontos para qualquer batalha, mas às vezes o que nos derruba não é o inimigo de fora, é o nosso próprio corpo”, o episódio evoca uma analogia amarga e necessária: toda estrutura, por mais robusta que pareça na retórica, enfrenta o desgaste físico e moral.
E aqui surge a dura realidade que aflige o povo brasileiro: a miserável polarização política. Esse grande mal, que incute à massa um conformismo acrítico e transforma narrativas em dogmas inabaláveis, anuncia – num sussurro de desesperança – que o fim já se aproxima, que jamais haverá retorno! Para aqueles que ainda insistem em existir, resistir e questionar essa famigerada polarização, é o momento de se encarar no espelho, sem as amarras de fake news ou de discursos ensaiados; pois o campo de batalha é o corpo humano – velho, cansado, desgastado e ferido.
E para a “brava gente”, é hora também de arrancar as crostas de lodo que reverberam na sua “metamorfose ambulante”. Basta de ser parasita das narrativas prontas: proponha, discuta, inove! Como ensina a sabedoria bíblica, “não se coloca remendo velho em pano novo, nem vinho novo em odres velhos.” Você é a verdadeira mudança! É preciso abandonar o olhar introspectivo e desatualizado e reconhecer que há um mundo pulsante do lado de fora – um mundo que exige peças novas, sem a interferência de Manda-Chuva ou de caciques que, insistindo nos remanescentes do passado, mantêm acesa a caverna da polarização. Que 2026 venha e transforme a velha quarentena ideológica em uma memória distante, onde a renovação seja fato e não mera promessa.
Em última análise, a cirurgia de Bolsonaro – meticulosamente descrita em boletins médicos – serve de metáfora para o reequilíbrio que se faz necessário não só no universo político, mas em nossa própria existência. É um chamado à ação: cortar os laços do passado, reparar as fragilidades, e permitir que a mudança se insira de forma eficaz nos nossos corpos e instituições. Pois, se o poder se projeta em discursos invencíveis, é na realidade do corpo humano que se revela a verdade inescapável da condição mortal.

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