Hélio Liborio
Hélio Liborio

Pitaco

Entre Balancês e Fogueiras, Onde Arde o Fogo da Gestão Pública?

Português

O Pitaco, mais uma vez, vem soprar o juízo daqueles que fazem da gestão pública um grande arraial de prioridades invertidas. Antes que algum apressado tente dançar o xaxado da fake news ao som desafinado da desinformação, deixemos claro: não se trata aqui de questionar a realização do São João. Ninguém em sã consciência seria contra uma festa popular que movimenta a economia, aquece o coração da cultura local e valoriza nossas tradições. A crítica, como sempre, reside na forma, no tempo e na inversão de prioridades. Afinal, por que a eficiência e a agilidade vistas para o São João não se replicam em outras urgências da cidade?
A apresentação do projeto junino — com o slogan “Viva a Tradição” — foi um verdadeiro espetáculo à parte. Uma festa que promete ser a maior da história de Alagoinhas, com estrutura montada no Estádio Carneirão e arredores, com direito a fogueira cenográfica, espaço instagramável, coreto, arena de shows, base médica, camarotes e até cantinho da roça. Tudo muito bem pensado. O discurso entusiasmado do prefeito Gustavo Carmo, que projeta Alagoinhas no roteiro das maiores festas juninas do Nordeste, ecoa como uma sanfona em tom maior: “Vai ser o melhor e maior São João da história. Estamos apenas no primeiro ano”.
Pois bem, senhor prefeito, a cidade de fato merece um São João à altura de sua identidade, mas também clama por uma gestão que saiba dançar com responsabilidade nos ritmos da infraestrutura urbana, da saúde pública, da educação e da mobilidade. A mesma dedicação aplicada ao forró não poderia se estender ao recapeamento das ruas, ao funcionamento pleno das Unidades Básicas de Saúde ou à valorização dos servidores?
É no mínimo curioso — ou seria revoltante? — que a Prefeitura demonstre tamanha organização, antecipação e envolvimento intersetorial para um evento festivo, enquanto tantas outras pautas urgentes seguem no compasso da enrolação. Parece que, para a festa, tudo anda em ritmo de quadrilha, mas, quando o assunto é resolver os buracos da cidade ou concluir obras inacabadas, o forró vira bolero.
Não se nega aqui o valor cultural e econômico do São João. É um evento potente, que pode e deve integrar o calendário turístico da cidade. O problema é quando a fogueira da vaidade ofusca a luz da razão administrativa. É fácil montar uma Vila de Santo Antônio e encher o peito com promessas de visibilidade nacional. Difícil mesmo é montar uma “Vila da Cidadania”, com serviços públicos funcionando, escolas bem cuidadas e ruas iluminadas.
Que o São João seja mesmo o melhor da história. Mas que, ao fim do arrasta-pé, o povo não se veja dançando sozinho com suas carências de sempre. Que não se apague o brilho da festa com a sombra da omissão.

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