Hélio Liborio
Hélio Liborio

Pitaco

“Farinha pouca, meu pirão primeiro?”

Português

Na semana retrasada, o G5MAIS, grupo que reúne as ligas de futebol amador de Alagoinhas, foi surpreendido por rumores preocupantes. A notícia que circulou apontava que, a partir da nova gestão municipal, em parceria com a Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo, as emendas parlamentares destinadas aos campeonatos sofreriam um novo desconto: 40% do valor total recebido. Para os presidentes das ligas, o percentual é alarmante, visto que já se considerava um equívoco os 20% anteriormente aplicados. Agora, o que era um desconto contestável dobrou, e a insatisfação foi imediata.
A grande interrogação que paira no ar é: como uma empresa, que já detém a responsabilidade pelos pagamentos de arbitragem, troféus, medalhas, placas, homenagens e premiações, pode aplicar um desconto de 20% sobre esses valores? E ainda mais intrigante: como a Secretaria, respaldada pela gestão municipal, quer impor mais 20% além disso? A matemática desse processo continua sem uma explicação convincente. E, para tornar tudo ainda mais nebuloso, o que deveria ser um contrato formal e transparente foi convertido em uma simples ATA, passível de alterações a qualquer momento. Isso é transparência?
Diante da insatisfação generalizada, uma reunião foi realizada no dia 12 de março de 2025, com a presença do prefeito, do secretário da pasta e de diretores, além de representantes do G5MAIS e presidentes de ligas. Mas o que deveria ser um espaço para esclarecimentos e soluções começou com uma inquietação inusitada: a primeira preocupação manifestada pelo prefeito foi sobre quem teria vazado as informações. A partir daí, a reunião avançou com falas sobre a necessidade de gestão eficiente e equilíbrio nas contas públicas. Mas um detalhe não passou despercebido: o orçamento em questão foi aprovado na LOA de 2024 para ser executado em 2025. A pergunta que ficou no ar foi: essa suposta “contenção de gastos” não deveria estar sendo pensada para 2026? Nenhuma resposta convincente foi dada.
Outro ponto que gerou desconforto foi a falta de explicações sobre a real necessidade da cobrança adicional de 20%. E a reunião se encerrou abruptamente quando surgiram questionamentos sobre custos controversos, como valores destinados a banheiros químicos, campeonatos duvidosos e lanches nunca vistos. No final das contas, a única definição concreta foi a convocação dos presidentes das ligas para apresentarem seus orçamentos até o dia 17 de março, para que até o dia 24 a Secretaria pudesse emitir um parecer sobre a situação.
O curioso é que já estamos no dia 25 de março, e o que se sabe até agora é que, coincidentemente ou não, pelo menos três presidentes de liga foram nomeados nesse intervalo de tempo entre o dia 17 e o dia 24. O questionamento inevitável é: será que estamos diante de um clássico “farinha pouca, meu pirão primeiro”? O fato é que se trata de dinheiro público, e os desportistas, os presidentes das ligas, o G5MAIS, os 17 parlamentares da cidade e todos aqueles que já destinaram emendas para esse setor deveriam estar exigindo esclarecimentos.
Se ainda assim a situação permanecer obscura, cabe a todos os envolvidos, inclusive à Câmara Municipal, considerar a possibilidade de acionar o Ministério Público. Afinal, como está, não pode ficar. Enquanto isso, seguimos atentos, observando os desdobramentos desse imbróglio.

English